sexta-feira, 19 de maio de 2023

Arquivos Turma da Mônica N°1.155 - Raposão: HQ "Notícias Amenas"

Compartilho uma história em que Jotalhão e Raposão tentaram criar jornal da mata mostrando só boas notícias, mas não aconteceu como esperavam. Com 6 páginas, foi publicada em 'Mônica Nº 47' (Ed. Abril, 1974).

Capa de 'Mônica Nº 47' (Ed. Abril, 1974)

Escrita por Mauricio de Sousa, começa com Jotalhão reclamando que jornais só mostram crimes, assaltos e desastres e comenta com o Raposão que as manchetes o magoam, dá impressão que o mundo é só violência. Acha que jornais também deveriam escrever sobre amenidades, é bom se manter informado, mas não esse sensacionalismo e "espremida até o fim" nos noticiários sobre crimes e desastres.

Raposão pergunta se Jotalhão não faria o mesmo se fosse dono de jornal e como ele diz que nunca faria, Raposão dá ideia de fazer um jornal como gostaria que fosse, faz falta um jornal de notícias da mata e sugere nome de chamar "O Rosadinho" ou "Notícias Amenas". Jotalhão acha formidável e se anima fazer logo o jornal "O Rosadinho" sair nas ruas. Raposão é encarregado de ser repórter e Jotalhão cuida do papel, tintas e impressoras.

Assim, Raposão vai à procura das boas notícias pela mata e começa com o Rei Leonino, que ao saber que um repórter quer entrevistá-lo se anima porque faz tempo que não é entrevistado por repórter e se espanta que era ele. Raposão conta que é repórter de notícias amenas e pergunta qual notícia agradável tem para dar aos leitores. Rei Leonino fala que nenhuma, um rei não pode falar muito de amenidades, têm que exigir muito no aumento de impostos, obediência, disciplina, vida de rei é dura, não pode ficar olhando para o lado róseo das coisas e sugere entrevistar o seu Ministro das Diversões.

Ao entrevistar o Ministro das Diversões, o Guarda diz que ele tinha ido a um velório e diversão é a pasta mais trabalhosa. Quando chega, o Ministro diz apenas que é difícil dizer notícias amenas. Depois, Raposão resolve procurar amenidades junto à simplicidade do povo, só que eles não colaboram. Dona Coelha manda Raposão dizer ao compadre Jotalhão e o marido Coelho Caolho que as crianças estão amolando e o dinheiro não está dando; Tarugo reclama que está louco de cansaço fazendo limpeza da casa e ele vir com essa; Ministro Luis Caxeiro Praxedes reclama que tantas coisas que o Rei mandou ele fazer e ele pedindo dizer coisas agradáveis.

Raposão desanima e depois Jotalhão pergunta se ele conseguiu as reportagens de coisas agradáveis. Raposão conta que trouxe nenhuma e acha que pararam de acontecer coisas boas no mundo e que por isso há tantos jornais sensacionalistas por aí. Jotalhão acha uma pena porque seria um jornalzinho gostoso de ler e Raposão pergunta se será que haveria leitores para jornais só com notícias agradáveis.

História muito boa em que Jotalhão queria criar um jornal só com boas noticias por estar cansado de ler só notícias desagradáveis, mas como Raposão descobriu que ninguém queria dar notícias amenas, eles desistem. Mauricio de Sousa, com maestria, quis fazer crítica e discutir o sensacionalismo nos jornais ao mostrar as notícias ruins e o impacto de vendas que elas tinham em relação às boas notícias. Não adiantava mostrar só coisa boa se o povo gostava mais de ler violência, criminalidades, desastres e outras coisas ruins, isso que dava ibope e vende mais jornais.

A gente  percebe que mesmo sendo história de quase 50 anos atrás, já tinham notícias desagradáveis em foco, sempre existiu e não é só de hoje e, assim, continua bem atual, daria para ser criada hoje tranquilamente sem nem precisar fazer adaptações. Hoje ainda inclui canais de televisão que gostam de privilegiar programas de violências, principalmente a TV Record, com sensacionalismo ao mostrar barbaridades para conseguirem audiência e até conseguem um ibope mais satisfatório em relação a programas normais sem apelo da mesma emissora. 

Mauricio gostava de fazer histórias assim filosóficas e de reflexão, mostrar seu auto ego e pensamentos através dos personagens, não era só com Horácio, com qualquer personagem ele podia criar histórias assim, dando mais preferência com Horácio, Turma da Mata, Astronauta e Piteco. Chama atenção essa fase dos anos 1970 a linguagem bem formal como "dão-me a impressão", "formidável", etc, até as crianças da Turma da Mônica diziam tudo na norma culta na época, depois eles padronizaram uma linguagem informal, ficando melhor. O Raposão era o protagonista desse núcleo da mata, muitas vezes até tinha nome dele no título sem nem aparecer na história, depois deixaram Jotalhão como protagonista e, por fim, preferiram denominar "Turma da Mata" nesse núcleo, sem um personagem protagonista. 

Foi legal ver que o Rei Leonino não queria falar coisas agradáveis e priorizar só seus interesses, o povo brabo atarefado ou reclamando da vida, absurdos de bichos da mata lerem jornais de seres humanos e Tarugo fazer limpeza de casa, que é o próprio casco, ter presença de vários personagens da Turma da Mata em uma mesma história, normalmente na época eram só 2 personagens juntos em cada história, mostrar outro ministro do Rei Leonino além do Luis Caxeiro, além do Guarda sendo representado como cachorro, depois eles mudaram Guardas como macacos. O final mostrar sombras do Jotalhão e do Raposão e fundo de horizonte da mata representa reflexão com a fala do Raposão. 

Incorreta atualmente porque não é considerado temas para crianças, ser mais filosófica e ter um teor mais adulto, hoje preferem colocar coisas próprias do universo de crianças até 8 anos, o que é uma pena porque não permite crianças pensarem sobre assuntos diversos. A palavra "louco" também é proibida atualmente, provavelmente para não confundir com o personagem Louco, e colocam sinônimos como "doido" ou "maluco" no lugar. Foi uma das primeiras vezes que disseram "Bolas!" no lugar de "Droga!" ou "Diacho!" e essas 3 palavras foram sendo colocadas tranquilamente ao longo da trajetória da MSP até os anos 1990. Hoje não podem mais ser faladas nos gibis, inclusive "Bolas!" andam implicando, colocando "Afe!" no lugar.

Os traços bem caprichados, foi também toda desenhada pelo Mauricio. Até que os personagens da Turma da Mata não mudaram muito nos traços desde os anos 1970, só eram um pouco mais franzinos. Teve um erro de Jotalhão com olho fechado azul na primeira página, deveria ser verde. Curioso Jotalhão com dedos ao segurar jornal e com patas quando segurava nada. Hoje em dia padronizaram Jotalhão sempre com dedos em qualquer situação. 

Nunca foi republicada em almanaques convencionais. Histórias de secundários dos anos 1970, no geral, poucas foram republicadas porque na Editora Abril procuravam colocar só histórias do titular neles, tipo, Almanaques do Cebolinha,  Cascão e Chico Bento tinham só histórias deles e só nos almanaques da Mônica com nome de "Almanaque Turma da Mônica" que tinham histórias de secundários e nos da Globo, essas histórias da primeira metade dos anos 1970 já eram consideradas velhas para republicarem. Só republicaram na Editora Panini em 2015 na 'Coleção Histórica Nº 47' na reedição do gibi do 'Mônica Nº 47' da Abril. 

Créditos - Marcos Alves: https://arquivosturmadamonica.blogspot.com/2023/05/raposao-hq-noticias-amenas.html

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