terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Arquivos Turma da Mônica N°1.212 - "Melhores Histórias da Mônica, por Mônica Sousa Nº 1"

Já nas bancas a edição especial "Melhores Histórias da Mônica, por Mônica Sousa Nº 1", da Editora Panini, comemorativa aos 60 anos de criação da personagem Mônica. Nessa postagem mostro como foi essa revista.

Lançada em novembro de 2023, foi pensada em comemoração aos 60 anos da personagem Mônica, fazendo parte do pacote de comemorações da MSP para a data não passar em branco como os gibis quinzenais "Nº 37" de agosto de 2023 e os livros "Mônica 60 Anos" e "Mônica Edição de artista". 

"Melhores Histórias da Mônica, por Mônica Sousa Nº 1", como o título propõe, reúne histórias da Mônica escolhidas pela filha do Mauricio de Sousa, Mônica Sousa, que foi a inspiração dele para criar a personagem Mônica em 1963.  As histórias mais top e memoráveis que ela leu, foram juntadas nessa revista. 

Tem formato de gibi convencional com 68 páginas, formato canoa 13 X 19 cm, capa com papel couchê ligeiramente mais grossa que os gibis atuais de bancas e papel jornal no miolo, sem passatempos, só histórias e com propagandas atuais, custando R$ 9,90. Até pensava que seria um formato maior e com capa cartonada com lombada seguindo estilo das edições da coleção "As Melhores Histórias" promocionais casadas do jornal "O Estado de São Paulo", de 2022, mas preferiram formato de gibi normal, que foi melhor ainda. Sim, acho muito bom que  não foi material de luxo como nos livros especiais de capa dura, o que deixa um preço acessível, afinal, para mim, não precisa de luxo, deixar estante bonita, o chamado "quadrinhos goumert", importante é ter conteúdo de qualidade com acesso a todos. 

Na distribuição chegou aqui dia 22 de novembro de 2023. A edição tem uma capa com um desenho da Mônica Sousa com a Mônica. Abre com um frontispício com a Mônica Sousa contando sobre a revista e as histórias que ela escolheu. Só acho que poderia ter uma ilustração, quem sabe, uma fotografia da Mônica Sousa, não só um texto.

Frontispício da edição

Em seguida, vem as histórias, todas são da Editora Abril dos anos 1970, mais precisamente primeiras edições da revista da Mônica, o que é coerente já que seria a época que a Mônica Sousa era criança e que realmente ela leu. Vemos os primórdios do Mauricio, com personagens com bochechas pontiagudas, falando de boca fechada, conversas com linguajar formal.

Começa com a clássica "A Ermitã" (MN #6, de 1970), com 16 páginas, em que a Mônica resolve se mudar para as montanhas por pensar que seus amigos não gostavam mais dela. Virou desenho animado depois no filme "As Aventuras da Turma da Mônica" de 1982.

Trecho da HQ "A Ermitã"

Em seguida vem "A Estrelinha perdida" (MN #8, de 1970), com 5 páginas, em que a Mônica e a turma ajudam a Estrela de Belém a voltar ao passado para cumprir sua missão de anunciar o primeiro Natal. Virou desenho animado em 1988, virando "Estrelinha Mágica" só que apenas com uma base nesta já que a história do desenho foi bem diferente. Curioso aparecer Anjinho andando como os outros em vez de voar, mas na época colocavam muito o Anjinho tratado como uma criança normal do que uma entidade, interagia muito, inclusive nas brincadeiras com a turma.

Trecho da HQ "A estrelinha perdida"

Depois tem "Os Azuis" (MN #15, de 1971), com 13 páginas, clássico que rendeu vários prêmios ao Mauricio de Sousa, que retratou o preconceito de racismo e que se torna atual até hoje. Mônica encontra seus amigos todos azuis e eles têm raiva e até nojo dela só porque ela é alaranjada, diferente da cor deles. Foi inspirada em um caso de racismo que o Mauricio sofreu e foi feita em poucas horas de madrugada pra fechar o gibi a tempo. Também virou desenho animado em 2009.
Trecho da HQ "Os azuis"

Já em "A Voz" (MN #18, de 1971), com 11 páginas, uma voz misteriosa sai da barriga da Mônica, falando coisas agradáveis aos amigos que nunca falaria para eles. Ela era ranzinza, braba, de poucas ideias, incapaz de dizer até "bom dia" para os outros e a voz interior fazia o contrário das atitudes dela, deixando seus amigos felizes. Mais uma história do Mauricio do tipo que as coisas aconteciam e pronto sem dar explicação e fica na imaginação dos leitores de como aquela voz surgiu na Mônica. Só se sabe que a intenção era tentar mudar a personalidade dela e ser mais gentil com os amigos.

Trecho da HQ "A voz"

A edição termina com "Mônica com salto alto" (MN #19, de 1971), com 5 páginas, em que a Mônica pega o sapato com salto alto da mãe e ela não consegue andar com elegância com saltos tão alto. Essa foi voltada exclusivamente para o humor, sem transmitir mensagens como as outras, foi engraçado ver a Mônica tentando andar com os saltos e equilibrando os livros na cabeça e até deu surra no Cebolinha.

Trecho da HQ "Mônica com salto alto"

Não teve uma tirinha final na última página, apenas uma ilustração igual da capa no lugar junto com os créditos finais. Ultimamente, alguns títulos novos como "Almanaque da Tina", "Almanaque de Histórias Curtas" e "Almanaque de Histórias Sem Palavras" estão seguindo esse estilo de só uma ilustração sem tirinha, tirando o estilo tradicional. Dava muito bem para Mônica Sousa escolher uma tirinha favorita que ela viu, as revistas de 1970 a 1972 não tinham tirinhas, mas ela podia escolher uma de 1973 em diante, tranquilo. A questão principal de não ter, foi isso de deixarem de lado as tirinhas em títulos novos, não porque não tinham tirinhas nos gibis naquele período. 

Sobre as terríveis alterações que têm em todos os almanaques atuais, tiveram várias, a maioria envolvendo correção de cores das originais que eles erravam muito, a ortografia da época como "êle", "êste", "côr", etc, eles mudaram para a ortografia atual, as falas do Cebolinha trocando letras que eram entre aspas nas originais, mudaram para negrito como é atualmente, mas tiveram também algumas alterações com textos a favor do politicamente correto. Interessante que algumas palavras que sempre mudam hoje como "Credo!", "Louco" e "Meu Deus!" mantiveram, mas outras palavras mudaram, não tendo, portanto, uma padronização. E mantiveram personagens falando de boca fechada. Em todas as histórias teve pelo menos uma alteração significativa e vou mostrando a seguir.

Na história "A ermitã", teve caso de alteração de cores, mudando a placa direita azul para branca, deixando de ser igual ao conteúdo original. Inclusive se fossem para alterar cor, teria que ser a placa da direita já que na cena anterior, a Mônica escreveu o texto em um papel azul e ficou branco neste quadrinho em destaque.

Na história "A estrelinha perdida", teve uma correção de cores em que na original o Sansão aparecia de olhos brancos fechados e dentes azuis e corrigiram deixando olhos azuis e dentes brancos. Fizeram várias correções de cores na edição. E também não colocaram as estrelas no céu no último quadrinho da reedição, provavelmente uma falta de atenção quando recoloriram.

Durante toda a história, toda vez que aparecia a palavra "criado-mudo" eles mudavam para outra coisa. Não entendi por que a palavra "criado-mudo" é proibida nos gibis de hoje a ponto de alterar em reedições de histórias. Quem sabe por ser duplo sentido e acharem que o leitor não vai saber distinguir criado-mudo de mesinha de cabeceira de um serviçal mudo, que não fala. Nessa cena, então mudaram "criado-mudo" para "gaveta".

Já nessa cena mudaram "criado-mudo" para "mesinha" reforçando que a implicância é com o criado-mudo. E outro tipo que alteração que fizeram nas histórias de 1970 desta revista em que todas as falas do Cebolinha em que ele trocava "R" pelo "L" entre as aspas, deixaram agora em negrito no lugar para ficar igual ao padrão dos gibis atuais, e, com isso, deixando de ser igual ao conteúdo original.
Outro tipo de alteração constante foi que tiravam as aspas das palavras informais. Nos gibis de 1970 e 1971, o linguajar dos personagens eram extremamente formais e quando falavam termos informais, deixavam entre aspas pra mostrar que não era a forma culta, e, então, nessa edição, tiraram aspas e todas as palavras informais. Neste caso, tiraram o termo informal "na fossa" (deprimida).

E nesta mesma cena, alteram fala do Cebolinha de "pol que" para "por que" e sem aspas. A grafia das falas do Cebolinha com palavras terminadas em "R" sempre deixaram o "R" no final, mas eles deixavam "pol que" nos gibis de 1970 e nessa reedição, toda vez eles mudaram para "por que" e sem aspas para padronizar com o estilo atual.
Nesta cena, alteraram a fala informal da mãe da Mônica na história original em que ela falava  "que tanto" para "por que". Não vi necessidade dessa mudança. E mais uma vez a implicância com "criado-mudo" mudando para "mesinha".
Já aqui alteraram a cor do vestido da Mônica que apareceu amarelo na edição de 1970 e agora recoloriram para vermelho. Neste caso, não precisavam recolorir porque quando deixaram camisa vestido amarelo dava sinal que a luz da estrelinha estava tão intensa próxima a ela e nessa mudança, a intensidade da luz pareceu menor do que a realidade. Quiseram corrigir cores, mas acabaram mudando o sentido dessa vez.
Na história "Os Azuis", toda vez que falaram a palavra "gozar" e variações, eles mudaram para sinônimos para não ter duplo sentido de cunho sexual. Essa palavra, bastante frequente nos gibis até dos anos 1990, é terminantemente proibida nos gibis atuais e sempre mudam agora. Então, cena cena mudaram "que coisa mais gozada!" para "engraçada".
Já nessa cena, outra vez alterada, afinal, colocarem um quadrinho com o Cascão falando "Veja só como a Mônica está gozada!" é um prato cheio para quem tem mente poluída e mostrarem em sites próprios como o "Porra, Maurício!" e o povo do politicamente correto iria implicar muito. Detalhe de "gôsto" alterado para seguir a ortografia atual e que em 1971 o Cebolinha já falava "Por que" como as outras palavras terminadas em "R" e também não tinha mais palavras entre aspas quando trocava o "R" pelo "L", então isso não foi alterado.

Aqui já ficou mais evidente que mudaram alguma coisa, mudando "gozar" para zoar" fica na cara que mudaram porque nem existia a palavra "zoar" em 1971. Fala "pavolosa" do Cebolinha ficou em negrito para seguir a atualidade e ainda corrigiram a camisa do Franjinha para vermelho já que na original apareceu amarela.
E aqui mais uma alteração na palavra "gozar" para "zoar", distanciando do conteúdo original da época, que pelo menos colocassem alguma palavra que existia na época.
Na história "A voz", corrigiram as cores das camisas da Magali e da Mônica que apareciam verde e preta, respectivamente na revista original. Essas correções de cores fazem direto. E outra alteração que fizeram muito foi retirar reticências ao lado de exclamação em finais de frases e as de início de um balão para seguir o padrão atual. As reticências, muitas vezes, como neste exemplo, mostravam continuação de pensamento no balão seguinte, tanto que o outro começava com reticências, mas preferiram tirar.
Nesta mesma história, alteraram a palavra "Cruzeiro" para "dinheiro" para seguir a atualidade. Porém, no quadrinho posterior é falado "Cruzeiro" sem alterar e ainda tem um aviso no rodapé da página explicando que Cruzeiro era a moeda do Brasil na época, então, desnecessária a mudança para "dinheiro" desse quadrinho destacado.
Na história "Salto, alto!" mudaram o título, tirando vírgula e exclamação. Podem ter achado que estava acentuado errado, mas eu vejo que fazia todo sentido porque na original com a vírgula, queriam dar destaque que a Mônica estava com um salto bem alto, não era um salto qualquer. Fora que a mudança deixa diferente do que foi colocado na época, sem deixar como foi na revista original.
Nessa mesma história, mudaram o "hem" para "hein" para seguir a ortografia atual. Antes era comum era sempre falarem "hem" e agora é proibido.
A palavra "janta" também é proibida atualmente e sempre alteram para "o jantar". Então, a fala da Magali dizendo "hora da janta", alteraram para "hora do jantar". Pode até ser mais correto gramaticalmente falar jantar, mas a gente é até acostumado falar janta no dia a dia e mudando tira a informalidade, fora ficar diferente da revista original.

Foi uma boa edição comemorativa*, cheia de histórias clássicas, não passa em branco os 60 anos da Mônica e melhor que sem luxo, é bom pra quem quer uma edição comemorativa e não tem condições de ter por serem caras ou quem quer ler histórias dos anos 1970 e não tem a extinta "Coleção Histórica" ou não tem condições de comprar os livros de luxo "Biblioteca do Mauricio". O que estraga são as alterações ridículas adequando ao politicamente correto ou à época atual, não deixando fiel às revistas originais, mas se até os livros "Biblioteca do Mauricio" alteram as coisas, não seria diferente dessa edição, pelo menos as alterações dessa vez não mudaram sentido das histórias. Se encontrar essa edição nas bancas é uma boa ter na coleção. Fica a dica.

* A princípio é apenas uma edição especial, mas por ter um "Nº 1" na capa, tem uma possibilidade de ser um título regular bimestral e, então, temos que aguardar para ver se vai confirmar ou não. Não faz muito sentido terem várias edições escolhidas pela Mônica Sousa, mas se for a cada edição serem histórias escolhidas por um funcionário da MSP diferente ou por artistas famosos, seria interessante. Tipo, roteiristas escolherem as suas histórias favoritas, ou as que leu na infância ou as que ele roteirizou, seria legal. Na Disney, até já teve coleção assim com famosos escolhendo as histórias top que leram. Vamos aguardar. 

Créditos - Marcos Alves: https://arquivosturmadamonica.blogspot.com/2023/12/melhores-historias-da-monica-por-monica-sousa.html

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