quarta-feira, 8 de junho de 2016

Submundo HQ N°55 : "Galícia" (de Marsal Branco): Nasce uma Obra-Prima da HQ Nacional Independente...

"Galícia".... É uma experiência visual e (praticamente mística/esotérica) impressionante. As imagens postadas aqui demonstram isso em todas as suas minuciosas linhas (cliquem nas FOTOS e deem um ZOOM nelas: Cada pequeno traço nas sombras, hachuras, e cenários foi feito à mão: Sem "efeitos especiais")! 

O artista (Marsal Branco) é meu primo, mas garanto que não é pelo grau de parentesco e amizade que compartilho aqui no blog o seu trabalho no mundo das HQs. "Galícia" é um quadrinho do mais alto nível de qualidade, e o leitor que ampliar e observar os detalhes nas imagens irá comprovar por si próprio que está diante de uma obra diferenciada!

Confira abaixo - Com texto do próprio Marsal (e não esqueçam o ZOOM pra apreciar melhor as imagens):
Tive a primeira visão de Galícia em Astorga. Caminhava a mais de vinte dias com oito quilos nas costas, atravessando a Espanha a pé. Andava cansado e dolorido, mas feliz como cusco em churrasco de chão. Isso foi em 2000. O primeiro de vários Caminhos de Santiago que fiz. De volta ao Brasil desenhei em torno de trinta páginas da história. Depois, por motivos usuais (a vida cobrando suas faturas), abandonei o projeto. Mas os personagens que vi lá não me abandonaram. Então, há cerca de três anos, retomei o projeto e reconquistei a disciplina e o resgate daquelas horas insubstituíveis e fecundas sobre a mesa de desenho. Galícia é uma ficção em que tento resgatar pelas metáforas tradicionais - poder, beleza, violência, superação e uma dose esdrúxula de exagero – os percursos filosóficos que senti (e ainda sinto) durante as experiências nessas espichadinhas de quase mil quilômetros. E aconteceu que a própria história Galícia virou uma peregrinação. Não é rápido. Não tem carona ou atalho. Cada hachura é feita manualmente, sem truques. O desenho a lápis me toma uma ou duas horas apenas, mas o trabalho a nankin de cada página leva em media 25 horas. Os originais têm o mesmo tamanho que você segura aqui, tornando alguns dos quadrinhos um tour de force para fazer a luz e sombra nos poucos centímetros que ocupam. Ao final, considerando suas 105 páginas - 77 das quais, já realizadas - terá me tomado mais de 2.600 horas de trabalho. Mais que o tempo de um bacharelado.

No que se refere a arte, os leitores mais atentos notarão alguns quadrinhos com soluções formais inexistentes na edição anterior. Normalmente envolvendo malabarismos doentios com nankim. Essas pequenas conquistas tecno-estéticas tem sido fruto de centenas de horas fazendo e aprendendo a fazer um tipo de arte que exige um tempo de produção fora do comum quando pensamos na indústria de quadrinhos tradicional. Esse aspecto me interessa muito. Em função do ritmo mais lento demandado por esse estilo, Galicia tem representado para mim um laboratório artístico e expressivo cujo objetivo é um só: chegar aos limites do que consigo executar com essa linda tinta milenar, o nankim. Do ponto de vista da história, esse “devagar” da produção - vinte e cinco horas para cada folha e uma semana para cada página - me permite um tempo de reflexão sobre o mundo de Galícia e de seus personagens que - espero - se reflita em uma maneira diferente ou pelo menos interessante de apresentar uma história de ficção nos quadrinhos. Obviamente, tenho consciência de que nada disso é garantia de um bom desenho, roteiro ou história em quadrinhos. Posso garantir, entretanto, que a Galicia entrega o melhor que consigo fazer. Nenhum atalho foi tomado, nenhuma negociação foi feita. Espero que o resultado consiga transmitir ao leitor o que representa para mim: um trabalho de amor e respeito à essa linguagem poderosa das histórias aos quadradinhos.

A primeira edição com o capítulo um de Galicia teve duzentas cópias. Para minha surpresa, foram vendidas com facilidade. Sei que aos olhos de uma editora ou das grandes livrarias, duzentas cópias é um suspiro de nada. Mas a qualidade da conversa com os leitores é mais do que ousaria esperar. O pouco em números é superado por uma interlocução muito ativa e prazeirosa. Desconhecidos que enviam mensagens e e-mails com análises e percepções surpreendentes sobre a história. E também convites para falar da produção de Galicia em Cursos de Design, Arte, Comunicação, Jogos Digitais, programas de mestrado/doutorado e para os doidos que possam ter interesse no tipo de procura estética a que tenho me dedicado. Nesses encontros e nessas conversas tenho notado que para além do conteúdo - a história, os personagens, o desenho - existe alguma coisa muito poderosa na ideia de fazer algo que se gosta faça chuva ou sol, faça dinheiro ou dívida, faça fama ou ostracismo. Que raro e bom que é fazer algo pelo puro prazer de jogar o jogo. E desenhar Guine… o que posso dizer? Festa na floresta!
Até+
PS: Para os leitores que tiverem interesse em conhecer e adquirir os exemplares lançados de "Galícia" (2 edições até o momento), recomendo que visitem e entrem em contato com o Marsal na pág. oficial da HQ no face: https://www.facebook.com/galiciahq/!!! 
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Créditos;)  Leo Radd http://submundo-hq.blogspot.com.br/2016/04/galicia-de-marsal-branco-nasce-uma-obra.html

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