Olá, amigos do "Submundo"... Muitos aqui são fãs dos quadrinhos dos anos de 1970/1980, mas mesmo quem não curte as HQs desse período já deve ter se deparado com ótimas histórias escritas por Michael Fleisher. Ele foi responsável por uma das fases mais marcantes do "Espectro" e de "Jonah Hex". Entretanto, o roteirista foi injustamente esquecido nas últimas duas décadas e apenas na semana passada os sites de notícias tomaram conhecimento da sua morte, apesar dele ter falecido dia 2 de fevereiro, aos 75 anos.
Como uma singela homenagem ao escritor, eu (Martin Fernando) pedi licença ao LEO para postar a tradução de um trecho do Comics Journal #56, publicado em junho de 1979, que serviu de introdução para uma ótima entrevista concedida por Fleisher ao editor Michael Catron (um dos fundadores da Fantagraphics), quando o roteirista estava no auge da carreira. Assim podemos lembrar alguns dos seus melhores trabalhos.
Confira abaixo:
Michael Fleisher tem uma imaginação sanguinária. Ela nos ofereceu, durante a década passada [anos de 1970], imagens como a de um homem transformado em escultura de madeira fatiado por serras-elétricas [Adventure Comics #435, jul. 1974, desenhada por Jim Aparo]; o corpo de "Jonah Hex" empalhado e exibido como atração de um museu do Velho Oeste [Jonah Hex Spectacular: DC Special Series #16, ago.1978, com arte de Russ Heath]; além dos mais variados assassinatos, mutilações e esquartejamentos de incontáveis protagonistas, antagonistas e personagens secundários. O aspecto inventivo e violento da ficção de Fleisher lhe rendeu uma indubitável notoriedade tanto entre os fãs como entre os profissionais. Porém, enquanto grande atenção tem sido direcionada a suas histórias sanguinolentas, aquela que talvez seja sua maior contribuição aos quadrinhos continua tendo relativamente pouco destaque. A Encyclopedia of Comic Book Heroes exigiu sete anos da vida de Fleisher. Com a ajuda de sua assistente de pesquisas, Janet Lincoln, ele compilou e escreveu o guia definitivo sobre os maiores heróis dos quadrinhos. A abrangência dessa tarefa é incrível. Fleisher leu, tomando notas detalhadas, cada uma das histórias do Batman publicadas entre 1939 e 1966. Depois fez o mesmo com o Super-Homem. E a Mulher-Maravilha. E o Capitão Marvel. E assim por diante, até ter analisado, no total, 22 super-heróis e supergrupos.
Quando terminou, havia escrito mais de dois milhões de palavras. Os três volumes publicados até agora [entre 1976 e 1978] representam apenas metade da enciclopédia completa. Os demais [que nunca foram publicados] tratam do Capitão América, Capitão Marvel, Senhor Destino, os dois Flashes, os dois Lanternas Verdes, os dois Homens-Gaviões, Hulk, Tocha Humana, Homem de Ferro, Homem-Borracha, Espectro, Spirit, Starman e Namor. Fleisher também fez notas sobre o Homem-Aranha e o Quarteto Fantástico, mas não preparou os manuscritos sobre eles. Em algum momento do processo, Fleisher começou realmente a escrever quadrinhos, e não só a tratar sobre eles. Quando trabalhou, por um breve período, como assistente-editorial de Joe Orlando, Fleisher teve a primeira chance de escrever uma série: O Espectro. Hoje, cinco anos depois [1979], O Espectro ainda é um dos dois personagens que nos vem à cabeça quando o nome de Fleisher é mencionado. Ainda que a revista tenha durado apenas 10 números, ela sem dúvida estabeleceu sua reputação como um escritor de tramas fortes e inquietantes.
O outro personagem que as pessoas associam a Fleisher é "Jonah Hex", que ele começou a escrever pouco depois de estrear como roteirista na revista do "Espectro". Porém, mais ainda que a anterior, foi Hex que Fleisher transformou na “sua” revista. Ao tecer o passado do protagonista durante a série, Fleisher meticulosamente removeu camada por camada do personagem, definindo-o de modo completo e bem-acabado para efetivamente evitar que outros roteiristas violassem o legado que ele havia estabelecido. Esse processo culminou na memorável: "Jonah Hex Spectacular", em que Fleisher assassinou Hex e depois o empalhou como um troféu de caça, exposto numa vitrine. Com a estipulação da morte de Hex, Fleisher ganhou controle pleno sobre a vida do caçador de recompensas, num nível que nenhum outro roteirista teve em relação a qualquer outro personagem de HQ. Em um meio no qual praticamente todo personagem pode ser escolhido para uma reformulação total (em resposta à queda nas vendas ou simplesmente pelos caprichos de um roteirista ou editor), o feito de Fleisher para impedir essa interferência é um tributo à consideração e aos cuidados investidos por ele na sua criação.
Michael Catron
(“The Blessed Life of Michael Fleisher: An Interview with the Man who Stuffed Jonah Hex”, Comic Journal #56, jun. 1979. Disponível em: www.lonely.geek.nz/fording_the_mainstream/jonah_hex_corral/comic_journal_56.html) Tradução de Martin F. A. Gonçalves Até+
PS: O "Submundo" agradece à esta especialíssima e mais que bem-vinda colaboração de Martin Fernando aqui pro blog... E lamento também a morte desse grande roteirista: A cena de "Jonah Hex" morto e empalhado (imagem acima) foi uma das mais chocantes da minha infância, rs. Que descanse em paz!
Como uma singela homenagem ao escritor, eu (Martin Fernando) pedi licença ao LEO para postar a tradução de um trecho do Comics Journal #56, publicado em junho de 1979, que serviu de introdução para uma ótima entrevista concedida por Fleisher ao editor Michael Catron (um dos fundadores da Fantagraphics), quando o roteirista estava no auge da carreira. Assim podemos lembrar alguns dos seus melhores trabalhos.
Confira abaixo:
Michael Fleisher tem uma imaginação sanguinária. Ela nos ofereceu, durante a década passada [anos de 1970], imagens como a de um homem transformado em escultura de madeira fatiado por serras-elétricas [Adventure Comics #435, jul. 1974, desenhada por Jim Aparo]; o corpo de "Jonah Hex" empalhado e exibido como atração de um museu do Velho Oeste [Jonah Hex Spectacular: DC Special Series #16, ago.1978, com arte de Russ Heath]; além dos mais variados assassinatos, mutilações e esquartejamentos de incontáveis protagonistas, antagonistas e personagens secundários. O aspecto inventivo e violento da ficção de Fleisher lhe rendeu uma indubitável notoriedade tanto entre os fãs como entre os profissionais. Porém, enquanto grande atenção tem sido direcionada a suas histórias sanguinolentas, aquela que talvez seja sua maior contribuição aos quadrinhos continua tendo relativamente pouco destaque. A Encyclopedia of Comic Book Heroes exigiu sete anos da vida de Fleisher. Com a ajuda de sua assistente de pesquisas, Janet Lincoln, ele compilou e escreveu o guia definitivo sobre os maiores heróis dos quadrinhos. A abrangência dessa tarefa é incrível. Fleisher leu, tomando notas detalhadas, cada uma das histórias do Batman publicadas entre 1939 e 1966. Depois fez o mesmo com o Super-Homem. E a Mulher-Maravilha. E o Capitão Marvel. E assim por diante, até ter analisado, no total, 22 super-heróis e supergrupos.
Quando terminou, havia escrito mais de dois milhões de palavras. Os três volumes publicados até agora [entre 1976 e 1978] representam apenas metade da enciclopédia completa. Os demais [que nunca foram publicados] tratam do Capitão América, Capitão Marvel, Senhor Destino, os dois Flashes, os dois Lanternas Verdes, os dois Homens-Gaviões, Hulk, Tocha Humana, Homem de Ferro, Homem-Borracha, Espectro, Spirit, Starman e Namor. Fleisher também fez notas sobre o Homem-Aranha e o Quarteto Fantástico, mas não preparou os manuscritos sobre eles. Em algum momento do processo, Fleisher começou realmente a escrever quadrinhos, e não só a tratar sobre eles. Quando trabalhou, por um breve período, como assistente-editorial de Joe Orlando, Fleisher teve a primeira chance de escrever uma série: O Espectro. Hoje, cinco anos depois [1979], O Espectro ainda é um dos dois personagens que nos vem à cabeça quando o nome de Fleisher é mencionado. Ainda que a revista tenha durado apenas 10 números, ela sem dúvida estabeleceu sua reputação como um escritor de tramas fortes e inquietantes.
O outro personagem que as pessoas associam a Fleisher é "Jonah Hex", que ele começou a escrever pouco depois de estrear como roteirista na revista do "Espectro". Porém, mais ainda que a anterior, foi Hex que Fleisher transformou na “sua” revista. Ao tecer o passado do protagonista durante a série, Fleisher meticulosamente removeu camada por camada do personagem, definindo-o de modo completo e bem-acabado para efetivamente evitar que outros roteiristas violassem o legado que ele havia estabelecido. Esse processo culminou na memorável: "Jonah Hex Spectacular", em que Fleisher assassinou Hex e depois o empalhou como um troféu de caça, exposto numa vitrine. Com a estipulação da morte de Hex, Fleisher ganhou controle pleno sobre a vida do caçador de recompensas, num nível que nenhum outro roteirista teve em relação a qualquer outro personagem de HQ. Em um meio no qual praticamente todo personagem pode ser escolhido para uma reformulação total (em resposta à queda nas vendas ou simplesmente pelos caprichos de um roteirista ou editor), o feito de Fleisher para impedir essa interferência é um tributo à consideração e aos cuidados investidos por ele na sua criação.
Michael Catron
(“The Blessed Life of Michael Fleisher: An Interview with the Man who Stuffed Jonah Hex”, Comic Journal #56, jun. 1979. Disponível em: www.lonely.geek.nz/fording_the_mainstream/jonah_hex_corral/comic_journal_56.html) Tradução de Martin F. A. Gonçalves Até+
PS: O "Submundo" agradece à esta especialíssima e mais que bem-vinda colaboração de Martin Fernando aqui pro blog... E lamento também a morte desse grande roteirista: A cena de "Jonah Hex" morto e empalhado (imagem acima) foi uma das mais chocantes da minha infância, rs. Que descanse em paz!
Créditos:) Leo Radd - http://submundo-hq.blogspot.com.br/2018/03/michael-fleisher-rip-o-adeus-ao.html
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