Compartilho uma história em que o Chico Bento virou Adão e causou muita confusão no Paraíso. Com 8 páginas, foi história de abertura de 'Chico Bento Nº 53' (Ed. Abril, 1984).
A história começa na criação do mundo e o narrador-observador conta que Deus criou o Céu e a Terra, logo após os mares, o dia e a noite, espalhou o animais pela Terra e do barro Deus criou o primeiro homem, o Adão, e de suas costelas criou-se a Eva, a primeira mulher do mundo para ser sua companheira e juntos, crescei e multiplicai-vos e no sétimo dia descansou.
O Adão era o Chico Bento e ele estranha o que está fazendo lá no Paraíso e pergunta pelas suas roupas e Eva acha engraçado o jeito caipira do Chico falar. Ao chamá-lo de Adão, Chico fala que o nome dele é Chico Bento. Eva diz que Ele lhe deu nome de Adão e Chico responde que Ele pode dar o nome que quiser que ele continua a se chamar de Chico Bento.
Eva fala para eles irem e Chico quer saber para onde, se vão comprar roupa e pergunta pelas suas botinas. Eva diz que não sabe o que é isso e que estava falando outra coisa, que era para cumprir a ordem de Deus de "crescei e multiplicai-vos". Chico fala para ela sair para lá e só quer saber quem foi o engraçadinho que escondeu as roupas dele.
Depois, Chico encontra uma suposta rede escorregadia, mas era uma cobra, que lhe oferece uma maçã que estava na sua boca. Chico dá uma paulada na cobra, pensando que era ela vendedora de maçã e a gira para todos os lados, se afirmando que ele é o maior caçador da roça, e a joga no Céu, atingindo Deus.
Deus quer saber o que estava acontecendo no seu descanso, Eva explica e Deus acha que tem alguma coisa errada porque a história da criação do mundo não era para ser assim enquanto Chico fica pescando. Deus acha que o Adão está agindo estranhamente e vai procurar nos seus arquivos e vê que aquele não era o Adão e usou a forma do Chico Bento, que nasceria muitos séculos depois, segurando a ficha dele. Deus retorna o Chico ao pó para nascer muitos séculos depois e cria a verdadeira forma do Adão e volta a dormir enquanto a cobra oferece maçã ao Adão.
Já no século XX Depois de Cristo, mais precisamente em 1984, Seu Bento está aflito a espera do nascimento do seu filho. O bebê chora, a parteira fala que é um menino e a esposa está bem. Seu Bento fala que vai se chamar Francisco Bento e quando vai ver o filho, estranha que tinha uma folha nele, que Deus esqueceu de tirar na pressa enquanto ele era Adão, terminando assim.
História sensacional com o Chico Bento como Adão e aprontando no Paraíso. Vimos que foi apenas um engano de Deus de ter usado a forma do Chico ao criar o Adão, mas o tempo que o Chico esteve lá conseguiu aprontar muita confusão. Foi engraçado ver o Chico com raiva por estar sem roupa, dar bronca na Eva, enfrentar a cobra pensando que era vendedora de maçã, ficar pescando. Legal também ver a ficha de registro de criação na mão de Deus, como se todos que nascem ter uma ficha no Céu, e a Eva dando em cima no Chico querendo sexo com ele ao lembrar as falas de Deus de "crescei e multiplicai-vos", os olhos dela até brilharam, e Chico só queria saber quem pegou as roupas dele.
Teve um erro da cobra oferecer maçã ao Adão, mas foi preciso para dar graça à história e Chico enfrentar a cobra. O final foi bom também mostrando o momento do nascimento do Chico. A gente podia pensar que era tudo imaginação ou sonho do Chico, mas a folha presa no Chico provou que tinha acontecido que ele esteve no Paraíso. Já tiveram outras também mostrando isso, aliás, gostavam de criar histórias mostrando os personagens nascendo, todos o principais já tiveram histórias com esse tema.
Destaque também ao caipirês do Chico que ainda era do jeito antigo e em fase de adaptação, já que Chico só começou a falar caipirês nas revistas em 1980, pouco tempo até então. Uma prova é a palavra "falano" em que gerúndios eram assim no caipirês dele e depois mudaram para "falando" normal.
Na época era normal ter histórias religiosas e com paródias bíblicas e ter presença de Deus era bem frequente também, principalmente nas revistas da Editora Abril. Não costumava aparecer o rosto de Deus, apenas ser só as mãos e a voz dele, como foi nessa. Também já tiveram outras paródias de Adão e Eva e criação do mundo, inclusive personagens querendo ser Deus como Capitão Feio criando seu próprio mundo com Cascão e Cascuda como Adão e Eva ('Cascão Nº 72', de 1985) e até Diabo querendo ser Deus em uma história do Astronauta, de 'Cebolinha Nº 151', de 1985. Definitivamente já teve de tudo na MSP.
Hoje "Chico Adão" completamente impublicável, impossível história de paródia bíblica assim, ainda mais Eva propondo sexo com uma criança e aparecendo seminua com seios à mostra, Chico enfrentar cobra, dando paulada nela, mostrando violência que não pode nas revistas novas e até mostrar Chico pelado eles têm implicância hoje. Apesar de ele aparecer com folha na parte íntima, mas teve quadrinho aparecendo pelado por completo. Fora Seu Bento fumando vários cigarros ao mesmo tempo, não mostram mais nem personagens fumando. Era comum mostrarem os pais fumando esperando os filhos nascerem na maternidade, mas hoje é proibido.
Os traços espetaculares na história toda, sobretudo nas artes das 2 primeiras páginas mostrando a criação do mundo. Como era bom ver desenhos assim e tudo feito à mão. Capa da revista fantástica também parodiando a clássica obra "A criação de Adão", pintura de Michelangelo Buonarotti. No segundo semestre de 1984, as revistas da Turma da Mônica estavam com capas em alusão às histórias de abertura, e não só as do Cebolinha como eram, mas depois voltaram atrás e passaram a colocar as piadinhas nas capas e deixando com alusão só histórias importantes e na Globo, historias de aberturas de forma fixa só as revistas Parque da Mônica e Gibizinhos.
Tiveram propagandas inseridas nas laterais, dessa vez obre o aniversário do Pato Donald, que em comemoração ia ter o Concurso do Pato Donald para ganhar 30 microcomputadores e uma edição especial dele com a reedição da revista "Nº 1" de 1950. Belos presentes. Eram normais propagandas nas laterais das páginas assim ou nos rodapés das páginas no espaço dos quadrinhos das revistas por terem muitos anunciantes.
Essa história foi republicada depois em 'Almanacão de Férias Nº 16' (Ed. Globo, 1994). Termino mostrando a capa desse Almanacão.
Capa de 'Almanacão de Férias Nº 16' (Ed. Globo, 1994) |
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