Em janeiro de 1991, há exatos 30 anos, teve uma história reunindo várias histórias inacabadas com personagens sofrendo de calor, tudo para ter um final bem inusitado. Com 7 páginas, foi publicada em 'Mônica Nº 49' (Ed. Globo, 1991).
Capa de 'Mônica Nº 49' (Ed. Globo, 1991) |
Em "O dia mais quente do ano", Chico Bento está reclamando do calor forte de matar, e resolve tomar banho na lagoa. Só que ao pular, descobre que a lagoa estava seca. Ele não aguenta o calor e vai se refrescar tomando água do poço, mas também estava seco e na torneira de manivela sem nenhuma gota 'água. Com a seca na roça e sem mais alternativas, Chico começa a chorar, falando que o calor está de matar enquanto o Sol castigava.
Em "Calor infernal". Diabão surge no cemitério do Penadinho, falando que vai levá-lo para o Inferno. Ele pergunta o que fez, sempre foi um bom fantasma, e Diabão responde que ele e Anjo Gabriel decidiram que tinham que decidir se Penadinho ia para o Céu ou para o Inferno, não podiam ficar nesse "chove-não-molha". Decidiram na sorte e o Diabão ganhou. Penadinho é levado ao Inferno e cada vez que chegava mais perto sentia mais calor, até ficar insuportável, querendo um ar-condicionado ou um leque. Diabão fala que lá não tem, por isso é chamado de Inferno e Penadinho começa a chorar, querendo voltar para o túmulo porque lá é fresquinho.
Em "O planeta de quatro Sóis", dois extraterrestres estão na expectativa de alguém captar o pedido de socorro deles que enviaram pelo rádio. Astronauta responde o chamado e aparece lá. Os ETs falam que o planeta deles gira em torno de 4 Sóis. É muito quente lá, um calor infernal que não dá para aguentar e querem que o Astronauta mude a órbita do planeta ou apague 3 Sóis, Astronauta diz que é impossível e os ETs lamentam, pois Astronauta era a única esperança deles e o planeta vai derreter perto de tantos Sóis e começam a chorar com os 4 Sóis castigando o planeta.
Ainda tem histórias representadas por 1 quadrinho com Rolo se alistando no deserto da Legião Estrangeira, Bidu batendo papo com o Sol, Magali desesperada por sorvetes para aliviar o calor e incêndio na mata do Papa-Capim por causa do forte calor. No final, mostra Mauricio de Sousa nos estúdios da MSP lendo os roteiros daquelas histórias e vai à sala de roteiristas mandando pararem de escrever aquelas histórias e entendeu a mensagem que eles queriam um ar-condicionado, com os 3 roteiristas Robson Lacerda, Rubão e Rosana Munhoz não aguentando o calor dentro do estúdio, com direito à Rosana dentro do aquário para se refrescar.
História muito legal essa, foi preciso os roteiristas criarem várias histórias sobre personagens sofrendo com calor para darem recado ao Mauricio que eles estavam precisando de ar condicionado no estúdio. Como as histórias precisam de supervisão do Mauricio para serem aprovadas, foi o jeito bem criativo que eles arranjaram para avisar o chefe. Foi hilário ver a Rosana dentro do aquário e o Robson trabalhando de bermuda e chinelo para ver como estava crítico o calor dentro do estúdio fechado.
Eram comuns histórias assim colocando várias histórias inacabadas para que no final tenha metalinguagem com algo que aconteceu no estúdio da MSP. O leitor até estranha no início, se perguntam por que as histórias não acabaram, se foi erro de edição da gráfica ou se tinham finais tristes mesmo, mas lendo tudo fazia todo o sentido serem assim. E até permitia os leitores imaginarem a sequência delas, com o que aconteceu com os personagens depois. Podiam até depois terem criados essas histórias de novo com seus devidos finais, todas tiveram um potencial bom.
Às vezes acontecia também de acontecer várias coisas com um só personagem e que no final aparecia a ligação com os roteiristas ou a MSP. Eu gostava dessas histórias com metalinguagem e mostrando bastidores da MSP, deixava o leitor mais próximo a eles. Quem sabe, eles realmente tiveram problema com ar condicionado na época e quiseram compartilhar o fato com os leitores com essa brincadeira nos quadrinhos.
Legal que cada história de calor escrita por eles se encaixarem bem com o universo de cada personagem e continuam bem atuais, já que o calor a cada ano que passa aumenta na Terra devido ao aquecimento global, em 1991 o aquecimento do planeta era menos quente que hoje. Analisando as histórias de 2 páginas, com o Chico mostra problema de falta de água em pleno verão, coisa que acontece muito na vida real, muitas cidades sofrem com seca, sem água nem para beber, vira até uma crítica social.
O cemitério do Penadinho retrata o purgatório, onde as almas ficam esperando lá até serem chamados para o Céu ou Inferno em definitivo. Dessa vez, o Penadinho acabou sendo escolhido para ir para o Inferno na sorte do palitinho. Como eram histórias para o Mauricio supervisionar e os roteiristas darem recado para ele, como se nunca tivessem sido publicadas em revistas, então o Penadinho depois voltou para o purgatório, onde se encontra até hoje. Interessante que mesmo sendo fantasma sente sensações de espetadas e calor, os absurdos dos quadrinhos que sempre eram bons. Já na do Astronauta, de fato, ele não podia mudar órbita nem apagar 3 Sóis, só Deus podia fazer isso, no máximo arrumar outra alternativa para o ETs se livrarem do calor, que aí ficou na imaginação de cada leitor.
Impublicável porque atualmente as histórias não podem ter finais tristes, fora envolver seca na roça, Diabo com o Penadinho, coisas inadmissíveis nas revistas atuais. Um fato curioso é que quando foi republicada no 'Almanaque da Mônica Nº 54' (Ed. Globo, 1996), simplesmente não republicaram as histórias do Chico Bento e do Penadinho, indo direto para a do Astronauta. Ou foi um erro da MSP pensando que a história começava com a do Astronauta ou foi o primeiro caso de politicamente correto, censurando Chico e Penadinho para não mostrarem o sofrimento do Chico com a seca e o Diabão com Penadinho. Embora em 1996 ainda apareciam diabos nas revistas, só que com menos frequência que no início dos anos 1990.
Os traços excelentes e que davam gosto de se ver, como sempre na época. Teve um erro de esquecimento de pintar a cueca do Chico no primeiro quadrinho da segunda página. Na época, a MSP só tinha 3 roteiristas (Robson, Rubão e Rosana) e esses 3 eram feras, arrebentaram e foram os que proporcionaram grandes alegrias para os leitores e que fizeram a fase de ouro da MSP. Sem dúvida uma história de verão bem marcante com estilo bem diferente e muito bom relembrá-la há exatos 30 anos.
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