Em homenagem ao Dia da Abolição da Escravatura no Brasil comemorado hoje, 13 de maio, mostro história em que o tataravô do Jeremias lutou pra deixar de ser escravo. Com 7 páginas, foi publicada em 'Mônica Nº 5' (Ed. Globo, 1987).
Capa de 'Mônica Nº 5' (Ed. Globo, 1987) |
Ambientada no século XIX no tempo da escravidão, é apresentado o Jeremim, um príncipe da África, corajoso, armado de uma única lança, enfrenta qualquer animal, tem muitos amigos na selva, mas o que curte é a liberdade. Só que um dia, Jeremim é capturado e levado por homens inescrupulosos e vendido como escravo para um senhor de engenho e transportado para longe da sua África.
Jeremim passa a trabalhar como escravo, sem direitos trabalhistas como salário, fundo de garantia, INPS e férias, quando para de capinar, cansado, leva chicotada do senhor Medeiros e a comida é bem pouca para não dar prejuízo. Jeremim passa a trabalhar dia, noite, sol e chuva e acaba ficando doente e o senhor Medeiros o leva para um curandeiro, que diz que ele esta mal e Medeiros resolve comprar outro escravo deixando Jeremim lá.
O curandeiro cuida dele e fica saudável de novo, e, assim, ele volta para onde morava o Senhor Medeiros para se vingar e salva a nova escrava que estava trabalhando no lugar dele. Medeiros vai atrás na selva, só que lá, Jeremim recupera a sua dignidade e gosto pela liberdade e consegue enfrentar o Medeiros, colocando para correr.
Jeremim começa a lutar pela dignidade dos seus parceiros negros escravos, libertando todos que encontravam. Até que no dia 13 de maio de 1888, a Princesa Isabel dá um basta na escravidão com a Lei Áurea e todos os escravos estão livres e o primeiro passo para todos se tornassem iguais, independente de cor de pele ou local de nascimento.
No final, descobrimos que foi história da vida do tataravô do Jeremias, contado pelo pai dele e Jeremias gosta muito e sente orgulho do seu tataravô. Ele vai jogar bola com os meninos como um craque e um homem assistindo jogar, fala que gostou do futebol dele e deseja comprá-lo para o time dele e pergunta quanto ele custa e Jeremias dá um soco, sem o homem entender o que ele disse de errado.
Muito legal essa história abordando Abolição da Escravatura, vimos que o tataravô do Jeremias era africano e escravo e serviu como um dos influenciadores na luta abolicionista e ainda uma piadinha no final crítica, comparando jogadores de futebol a escravos. No final, Jeremias pensou que ia ser vendido como escravo, aí bateu no homem. Ele não imaginava que era para ser um jogador de futebol famoso. Apesar que receberia um salário excelente, por outro lado jogadores de futebol também têm contrato e tratados como mercadoria por dirigentes, assim como eram com escravos, de certa forma, foi uma boa comparação.
Em 7 páginas, as crianças aprenderam de uma forma divertida toda a trajetória da abolição dos escravos como tráfico negreiro, mão de obra escrava, revoltas de escravos, fugas, quilombo, assinatura da Lei Áurea, tudo tratado de uma forma simples para crianças entenderem e sem deixar piegas. Deu pra ver como os negros escravizados sofriam. Mesmo passados 134 anos da Abolição, negros infelizmente ainda enfrentam racismo e preconceito até hoje, um dia esperamos que essa visão mude e entendam que somos todos iguais.
Incrível que até as histórias didáticas antigas eram boas. Na verdade, até as revistas institucionais antigas eram superiores e com mais conteúdo que as histórias didáticas dos gibis atuais. Se fosse hoje, iam transcrever só os fatos, sem ligação com um personagem como foi nessa. Fora que na época histórias didáticas eram só de vez em quando, atualmente virou lei na MSP, praticamente tudo é ensinando alguma coisa.
Impublicável hoje, mesmo mostrando a realidade como era, porque sem chance de mostrar uma criança como escrava, trabalho infantil escravo, levando chicotada, sem comer direito e doente e também armas e lança de ponta, caça de leão no início, palavra "Diacho!" proibida hoje nos gibis, o dirigente levar soco do Jeremias no final, negros desenhados com lábios grandes, Jeremias com boca com círculo rosa, nada disso pode atualmente.
A história foi lançada 99 anos depois da Abolição até então, bem que podiam ter deixado reservada para 1988, para completar exatos 100 anos. Narrador sempre davam um charme a mais, dessa vez foi o pai do Jeremias em vez de ser roteirista da história. Jeremim foi desenhado como o tataraneto Jeremias para ter uma identificação de um personagem conhecido, ficou bom. Por isso não foi a toa ou erro o título ter crédito a Jeremim. O grande Jeremias tinha bastante histórias solo na época, destaque não só participando das da Turma da Mônica, eu gostava das histórias dele.
Os traços ficaram bonitos, bem caprichado. Deu até para perceber uma diferença do Jeremias com boca com lábios com círculo rosa (mais adotado até início dos anos 1980) e com lábios normais representado pelo Jeremim (estilo mais atual da época assim, lábios com círculo já era só de vez em quando de acordo com desenhista). As cores seguiram o estilo de 1987 com os personagens brancos mais rosados e já estava começando a ficarem mais desbotadas em relação aos primeiros meses de 1987, na transição da Editora Abril para Globo. As cores mais desbotadas ficaram até primeiros meses de 1988. Muito bom relembrar essa história homenageando a Abolição da Escravatura há exatos 35 anos.
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