Capa de 'Cascão Nº 139' (Ed. Globo, 1992) |
Em maio de 1992, há exatos 30 anos, foi publicada a história "A ovelha suja da família" em que o Cascão vai passar uns dias na casa dos tios com mania de limpeza. Com 13 páginas, foi história de abertura de 'Cascão Nº 139' (Ed. Globo, 1992).
Nela, conhecemos os tios do Cascão, Zuleika e Gualberto. Zuleica está limpando a casa, chegando a limpar almofada dez vezes, bem ansiosa com a chegada do seu sobrinho Cascão que não o via desde recém-nascido e vai passar uns dias com os tios enquanto os pais viajam. Zuleica reclama com Gualberto não ler jornal empoeirado no sofá, nem colocar os pés no chão e ele pergunta se pode respirar. Em seguida, toca a campainha. Era o Cascão, mas ela pensa que é um mendigo e fala que o caminhão de lixo não passou lá e bate a porta na cara dele.
Cascão toca de novo a campainha e fala para tia Zuleica que é o sobrinho. Os tios se espantam, Zuleica pergunta o que aconteceu com ele para estar naquele estado e Gualberto pergunta se ele sofreu algum acidente e Cascão responde que não que ele lembre. Zuleica acha que Cascão está com amnésia e um banho resolve e ele diz que não vai, nunca tomou banho na vida e o tio comenta que percebe pelo fedor saindo.
Cascão pergunta se pode sentar um pouco porque está cansado. Zuleica não deixa sentar no sofá, nem na cadeira e nem no puff e o coloca para sentar em uma caixa de sabão vazia. Enquanto Cascão toma suco e tio Gualberto faz cara de nojo, telefone toca e era a Dona Lurdinha querendo saber se o filho chegou e se tem problema de ele ficar lá durante a viagem e Zuleica fala para irmã que é trabalho nenhum, será um prazer, fazendo cara de nojo e ao desligar o telefone, reconhece que é falsa.
Zuleica pergunta onde está o Cascão e veem que ele está brincando na lama no quintal. Zuleica reclama que a irmã não teve pulso firme com o Cascão, ela nunca deixaria filho chegar a esse ponto, e com 1 semana lá, vão conseguir modificá-lo, ensinando hábitos de higiene a ele. Cascão volta do quintal sujando a casa com lama, vai ao banheiro e suja privada, toalha e pia, precisando os tios limparem tudo por onde ele passou e depois Cascão vai ao quarto deitar na cama deixando os tios desesperados e Zuleica avisa ao marido para lembrá-la de queimar os lençóis amanhã.
Depois, Zuleica chama Cascão para almoçar, demorou porque tiveram que fazer faxina na casa. Ela fala que precisam ter conversa séria e Cascão prefere contar piada do pinguim resfriado. Zuleica quer falar de coisas importantes como banho, limpeza e higiene. Cascão faz cara de nojo e fala para não dizer isso na hora do almoço porque estraga o apetite e eles estão com fome: ele e o sapo Paulinho. Ao mostrar o sapo, os tios saem da mesa enjoados a ponto de vomitarem e Cascão avisa ao Paulinho que não deve falar coisas nojentas na hora do almoço.
Depois, enquanto Cascão passava de um lado para o outro, Zuleica limpava logo atrás. Gualberto pergunta até quando eles vão ficar assim e Zuleica diz que é até a semana acabar. Gualberto resolve falar com o sobrinho e o encontra em cima da lata de lixo no quintal tomando banho de sol e sua muito no calor, ficando fedido.
Gualberto põe um pregador no nariz e conta para o Cascão uma história de um menino que não tomava banho, todos fugiam dele até que um dia ficou com muita coceira, resolveu tomar banho e gostou. Cascão sai, dizendo que detesta histórias com finais tristes. Já dentro de casa, Gualberto se cansa e intimida o Cascão que se ele quiser ficar na casa deles, vai ter que tomar banho.
Cascão pega a sua trouxa para ir embora, aí Gualberto diz que eles querem só o bem dele e se tornar um menino limpo. Cascão diz que igual a eles e discursa sobre a apologia a sujeira, que os tios ficam sempre limpando tudo preocupados com a sujeira e depois vão ter que limpar tudo de novo porque a poeira nunca vai parar de se acumular como teia de aranha e sujeira debaixo do tapete, cada vez que chover vai formar lama porque estão no planeta Terra.
Gualberto conta que se não limpar, vira bagunça, sujeira acumulada provoca doenças, tem que preservar a natureza, fora que a Terra tem três quartos de água. Cascão diz que o que pode fazer se não consegue mudar e Zuleica diz que tem uma solução e em um ponto ele está certo.
Depois de uma semana, os pais do Cascão voltam da viagem e vão buscá-lo na casa dos tios. Dona Lurdinha comenta com Seu Antenor que foi boa ideia de deixar o filho com a Zuleica, em matéria de higiene foi grande influência para o Cascão. Quando chegam, tem a grande surpresa de ver Zuleica e Gualberto sujos e a casa imunda e Zuleica conta à irmã que enquanto Cascão estivesse morando lá não valia a pena limpar a casa.
História muito engraçada com o Cascão visitando seus tios com mania de limpeza e que não o viam desde que era recém-nascido e não sabiam que ele era sujinho e nunca ter tomado banho, causando muita confusão e constrangimentos para os tios. No final, descobrimos que foi plano da Dona Lurdinha de fazer viagem e deixar o filho na casa da irmã para ver se ela influenciava a tomar banho, mas não contava que foi o Cascão influenciou os tios que não é problema conviver com a sujeira.
Dona Lurdinha poderia ter avisado a irmã que o Cascão não tomava banho e ajudasse a convencê-lo a ter higiene e também ter levado o filho até a casa da irmã, aí não teria a sua surpresa de descobrir só na hora que chegou. Muito legal ver o espanto dos tios ao saber que Cascão era sujinho, tendo nojo dele e comparando a mendigo, não deixar sentar no sofá, cadeira e puff, a falsidade da Zuleica no telefone, sapo no almoço, Zuleica limpando tudo onde Cascão passava e até mandar queimar lençóis de cama onde ele deitou, o discurso do Cascão de que não adianta limpar as coisas se vai sujar de novo e os tios sujos no final aderindo a filosofia do Cascão.
Tem até julgamento da educação da Lurdinha com a fala da Zuleica de como ela permitiu Cascão não tomar banho até hoje, não ter sido firme com ele e que nunca criaria filho assim. Irresponsabilidade dos pais permitirem isso, tinham que impor o filho até por causa de doenças que podiam causar sem banho. Só que como são histórias em quadrinhos, nada importa a realidade, vale que Cascão não toma banho e pronto para ficar divertido.
Histórias com os personagens com seus parentes, principalmente tios distantes sempre eram divertidas, todos os personagens já tiveram histórias assim. Nessa, Cascão teve tios Zuleica e Gualberto, sendo a Zuleica, tia por parte de mãe, irmã da Lurdinha, e o Gualberto tio de consideração por ser casado com a Lurdinha. Eles só apareceram nessa história como de costume de parentes distantes da turminha. Cascão mesmo teve outros parentes de uma história só. Tem até uma semelhança com Cremilda e Clotilde, mas preferiram colocar parentes com essa característica de mania de limpeza para diferenciar.
História serve também como crítica a pessoas com mania de limpar casa toda hora, para maneira, tudo em excesso faz mal. Mostrou também o verdadeiro Cascão dos velhos tempos que era capaz de sair da casa dos tios para não tomar banho. Impublicável por mostrar Cascão com apologia à sujeira, fazendo até seus tios aderirem, com direito a brincar na lama, ficar em lata de lixo, tudo mal exemplo e inaceitável para o politicamente correto. Fora tios com nojo dele por causa disso, achando que era mendigo, Cascão sendo abusado e respondendo os tios, mexendo com sapo sujo. Se fosse hoje, eles iam conseguir pelo menos fazer Cascão lavar as mãos. Curiosamente, até a expressão "Meu Deus" é proibida hoje em dia, não se pode mais falar nome de Deus nas histórias por causa dos ateus, não pode mais envolver religiões e crenças de qualquer espécie. Sempre alteram em almanaques atuais quando tinham "Meu Deus!" nas histórias originais.
O título foi baseado na música "Ovelha negra" da Rita Lee, com letra de "ovelha negra da família", até nos títulos eles eram criativos, encaixou bem a comparação com ovelha suja. Os traços muito bem caprichados, gostava quando personagens apareciam com dentes expostos quando ficavam assustados. Só não gostei da Dona Lurdinha aparecer sem lábios e batom, desenhavam mães assim quando queriam dar mais humor a elas e esse estilo de mães sem lábios foi mais frequente em outros estilos de traços adotados a partir de 1993. Muito bom relembrar essa história há exatos 30 anos.
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