Capa de 'Chico Bento Nº 161' (Ed. Globo, 1993) |
Em março de 1993, há exatos 30 anos, era publicada a história "Um aluno de classe" em que o Chico bento adquire todo conhecimento do mundo ao levar uma pancada de livro na cabeça e causa uma revolução na escola. Com 17 páginas, foi publicada em 'Chico Bento Nº 161' (Ed. Globo, 1993).
Chico Bento chega da pescaria e sua mãe fala que quer ter uma boa conversa com ele. Chico pergunta se quer prosear sobre o tempo ou a plantação de abóbora. Dona Cotinha diz que a professora esteve lá e avisou que ele está indo muito mal na escola. Chico diz que a professora é dedo-duro, se quer o bem dele por que só dá zero para ele.
Dona Cotinha diz porque não estuda. Chico responde que estuda só que as coisas não entram na cabeça dele. Dona Cotinha manda o filho estudar mais para ser um dos melhores da classe e Chico diz que é alguém importante porque faz os outros alunos darem risada, ser a alegria da classe. Dona Cotinha deixa Chico no quarto para estudar até a hora de ir para escola.
Chico começa estudando História, não consegue memorizar frase de quem proclamou a República foi Marechal Deodoro da Fonseca e estudando Matemática confunde números primos com números dos filhos dos tios que moram na cidade, que, as vezes, são meio caroços. Chico fala que não adianta estudar porque é cabeça dura, bate a cabeça no armário e um livro cai na cabeça dele.
Dona Cotinha leva um lanche para o Chico, avisando ao Seu Bento que pôs o filho pra estudar e veem o filho desmaiado. Quando ele acorda, Dona Cotinha fala que nem precisa ir para escola para descansar e ele diz, sem falar caipirês, que está perfeitamente bem e quer ir para escola porque será seu dia de triunfo, era um reles ignorante, mas a luz da sabedoria minou a mente dele.
Os pais estranham o linguajar, acham um milagre e comemoram. Chico pega livros e manda os pais estudarem porque um gênio como ele não pode ter genitores que falam tudo errado, seria uma vergonha, e quer que eles leiam tudo e esteja tudo na ponta da língua quando ele voltar da escola. Os pais comentam que o filho virou um monstro.
No caminho da escola, Zé da Roça estranha Chico ir cedo porque era o último a chegar e brinca que ele nunca estudou. Chico passa na diretoria antes de ir para sala e Zé da Roça acha que ele tinha aprontado, mas estranha ele ter falado certo. Na sala, Marquinhos, o menino mais inteligente da sala e puxa-saco, pergunta para professora Marocas se quer que ele passe lição na lousa e ela diz que não, era dia de chamada oral.
Chico chega atrasado e Marocas fala que ele tem que tomar jeito, está muito relaxado além das notas baixas, que já sabe que esteve na casa dele para falar com a mãe e não quer gracinhas na aula de hoje. Marocas faz as perguntas para os alunos. Marquinhos responde quando foi proclamada a República, Maria Chiquinha, a raiz quadrada de 144.
Na vez do Chico, Marocas dá um problema matemático de quantas horas pedreiro erguerá uma dezena de fileira de tijolos. Chico responde cinco em inglês, a classe ri e ele explica que era fácil demais, poderia responder em francês ou em alemão e pensava que perguntaria algo mais desafiador sobre o que são números primos ou sobre Marechal Deodoro da Fonseca ou Química Orgânica, Geografia Humana, Estatística ou Sociologia.
Marquinhos acha que era cola do Chico, que manda que faça perguntas para ele. Chico responde tudo na hora e faz pergunta ao Marquinhos qual é a teoria da relatividade descoberta por Einstein. Marquinhos não sabe, procura no livro e Chico diz que só vai aprender na universidade. Marquinhos chora por não ser mais o primeiro da classe.
Chico diz para Marocas que mudou, não é mais aquele que falava errado e tirava notas baixas e agora que sabe tudo e ela não tem o que ensinar para ele, deseja ser o professor no lugar dela. Marocas acha um absurdo, Chico conta que já falou com o diretor e com a prova cabal das habilidades dele, não pôde recusar. O diretor aparece, confirmando que o Chico é um gênio mirim e o novo professor e Marocas sai da escola.
Chico, como professor, chama o Marquinhos. Por ele falar "O que é, Chico!", recebe nota zero porque o correto é falar professor Francisco Bento. Depois, ele chama a Rosinha. Pela voz linda, dá nota dez para ela. Zé da Roça fala que isso não é certo, Chico diz que quem decide o que é certo ou não é ele, por ser autoridade máxima e comenta que logo será o diretor e com conhecimento dele, ninguém o segura, primeiro essa escola, depois o mundo.
Com a empolgação, bate na estante e o livro em cima cai na cabeça do Chico e desmaia. Quando acorda, volta a falar errado e todos comemoram. Professora Marocas volta a dar aula, fica aliviada com o Chico que voltou ao normal e faz uma pergunta sobre o que é conjunto vazio. Chico diz que deve ser coisa bem parecida com a cabeça dele agora. Todos dão gargalhadas e Marocas dá nota cinco para ele porque viu que é um menino esforçado. Chico é ovacionado pelos amigos na saída da escola e quando ele chega em casa, quando vai contar novidade para os pais, ele os encontra exaustos de tanto estudar e Chico comenta que se queriam dar bom exemplo, não precisavam exagerar.
História muito engraçada e cheia de reviravoltas em que o Chico fica inteligente ao levar uma pancada de livro e deseja se vingar dos pais que viviam mandando estudar fazendo o mesmo com eles, de todos na escola que caçoavam dele por ser burro e da professora Marocas que vivia dando nota zero para ele. Consegue virar professor no lugar da Marocas, mas com uma nova pancada na cabeça, volta ao normal, voltando a ser o aluno como que sempre foi.
Interessante que além de ficar inteligente, Chico passa a ficar arrogante e perverso, o oposto da humildade que tinha e, ao voltar ao normal, os amigos e a professora o reverenciam e passam a dar valor a ele. Se fosse só inteligência, todos iam gostar. Mesmo que ele tinha todo o conhecimento do mundo, o diretor nunca podia deixar o Chico ser professor, já que ele não tinha faculdade e diploma, coisas de histórias em quadrinhos. Ele não se lembrou o que aconteceu após a primeira pancada em casa quando voltou ao normal, por isso estranhar os pais estudando no final, sem se lembrar que foi ele mesmo quem mandou.
Foi legal ver Chico dando desculpas para mãe do motivo de não estudar, não guardar as coisas que estudava, falar sozinho enquanto estudava no quarto, as burrices de Proclamação da República, números primos e conjunto vazio, falar certo e com palavras difíceis, desafiar Marquinhos e a professora e se tornar professor dando zero para o Marquinhos. Palavras "classe" e "lousa" são mais típicas em São Paulo onde eles moravam, mais comum em outros estados falarem "turma" e "quadro-negro", respectivamente.
Dessa vez eles estudaram de tarde quando normalmente era de manhã porque o roteiro pedia já que o Chico estudou em casa e livro caiu na cabeça dele pela parte da manhã antes de ir para escola. Rosinha não costumava estudar com o Chico, normalmente ele de manhã e ela, de tarde, mas as vezes estudavam juntos de acordo com o roteiro. Zé Lelé dessa não apareceu porque não se encaixava na história.
Marquinhos foi um personagem bem interessante, como o mais inteligente da turma e puxa-saco da professora. Apareceu só nessa história, mas bem que podia ter sido aproveitado em outras histórias, ter virado personagem fixo, já que toda turma tem um aluno super inteligente e puxa-saco. Zé da Roça e Rosinha (quando estudava com o Chico) eram considerados mais inteligentes, mas não a nível do Marquinhos. A escola nessa história teve entrada para outras salas como a do diretor, normalmente tinha formato de uma casa simples de interior só com a sala do Chico, mas dependendo de roteiro, colocavam outras salas e até pátio as vezes.
Incorreta atualmente por mostrar Chico desinteressado por estudos, burro na escola, respondendo à mãe e discutindo com ela, tratar mal a professora, se tornar professor sem faculdade, a professora Marocas ser enérgica com o Chico. Tem palavras proibidas também como "Deus" porque não pode mais envolver religião, "gozado" pra não ter duplo sentido. Os traços muito bonitos e caprichados que davam gosto de ver. Teve erro da Dona Cotinha sem lábios na boca na quarta página da história (página 6 do gibi) e as cores cada vez mais fortes a cada mês que passava e os tons pasteis marcantes do início da Globo ficando para trás. Muito bom relembrar essa história há exatos 30 anos.
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