terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Especial NX Zero-Os escoteiros do rock!

Como o politicamente correto NX Zero se tornou a maior banda brasileira. E a mais comportada
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O guitarrista Gee e o vocalista Diego produzem o frenesi coletivo de milhares de fãs do NX Zero em Campinas, no interior paulista
O rock pode ter virado uma coleção de idéias preconcebidas, atitudes emprestadas e gestos batidos. Ainda é nele que parte da juventude se refugia para dar vazão à rebeldia. Mas foi-se o tempo em que a “atitude” de uma banda de rock era medida pelo número de encrencas que seus músicos arranjavam. A prova de que o bom mocismo foi incorporado ao rock nacional está no grupo de maior sucesso de hoje, o NX Zero. O vocalista Diego José Ferrero, o Di (de 23 anos), o baterista Daniel Weksler, o Dani (de 22), o baixista Conrado Lancerotti Grandino (de 22) e os guitarristas Filipe Duarte Pereira, o Fi (de 21), e Leandro Franco da Rocha, o Gee (de 21), são cinco jovens educados de classe média. Não fumam, bebem pouco e detestam confusão. “Não fazemos pose de mau”, diz Conrado dentro de um camarim simples e organizado antes de um show em São José dos Campos, São Paulo.
“Temos de respeitar quem trabalha para deixar tudo isso arrumado para a gente”, afirma Conrado. Há alguma rebeldia domesticada, conservada em tatuagens espalhadas pelo corpo, cabelos desgrenhados e ensebados e roupas cuidadosamente largadas. “Damos pouca atenção ao visual. Nada é planejado, tudo é espontâneo”, diz o vocalista Di. “A gente não tenta passar alguma coisa definida.” Isso explica o nome do grupo. NX Zero vem de Nexo Zero, que quer dizer exatamente isso: nada. “A idéia era ter um nome em português sem nenhum significado”, afirma Di.
Os garotos do NX Zero adoram esporte, churrasco e pizza. E não são baladeiros. “A gente viaja tanto que quando paramos preferimos ficar com nossas famílias”, diz o baterista Daniel, que mora com a também roqueira Pitty. Dos cinco, o único solteiro é, justamente, o mais cobiçado da banda, o vocalista Di. “A gente é meio nerd, caseiro mesmo”, diz Fi enquanto segura um PlayStation portátil. “Terminamos o GTA (um game famoso) várias vezes e gostamos de jogar Elifoot”, afirma Gee com o notebook ligado no simulador de partidas de futebol. “Eles falam a língua da molecada de até 15 anos”, diz o produtor Rick Bonadio, responsável por alguns sucessos do rock nacional. “Representam a coragem de assumir os sentimentos, ser sensível com atitude e sem preconceitos.” Realmente, não existem barreiras ideológicas nem estéticas para o grupo. De pocket shows em ONGs a rodeios gigantes como o de Jaguariúna, o NX Zero, ultimamente, está em todas. “A gente toca em programas populares mesmo”, afirma Di. “Só quem tem síndrome de underground reclama, porque isso abre um p... espaço.” Terreno estrategicamente cavoucado para ser ocupado pelo grupo desde o começo, há oito anos. “No primeiro CD independente, Diálogo, eram só Leandro, Daniel e Filipe”, diz o empresário Angelo Casarin, de 32 anos. “Pouco antes de gravar o CD, Leandro trouxe o Diego, e o Conrado entrou mais tarde.” “Colocamos nossas músicas na internet e caímos na estrada para fazer shows”, afirma Gee. “A gente dormia na van e mal tinha dinheiro para o hotel.” Para chegar ao cachê atual de R$ 70 mil, os integrantes da banda contaram com a ajuda de uma “tropa de elite” conhecida na música como street team: ardorosos fãs engajados na promoção de um artista. “Esses fãs são radicais, faziam um trabalho insano”, diz Daniel. “Quando a gente não era conhecido, eles ligavam no Disk MTV (programa com o top 10 dos vídeos mais pedidos pelos espectadores) e nas rádios para pedir nossas músicas.” A dedicação dos fãs é retribuída com ardor. Uma hora antes de cada show, eles se reúnem numa saleta para autografar fotos e camisetas da legião de jovens organizados em fila indiana à espera da atenção dos ídolos. “Isso não pode virar só rotina de show, não podemos deixar de nos comover com isso”, diz Conrado.
Foi o “círculo virtuoso” entre o grupo e seus fãs que converteu o NX Zero no fenômeno atual. Além, claro, da forcinha de uma grande gravadora. Há dois anos o grupo foi descoberto por Rick Bonadio num show do Hangar 110, conhecida casa de rock alternativo no centro de São Paulo. Responsável pelo selo Arsenal, braço da gravadora Universal, Bonadio sentiu o cheiro do sucesso. “O Diego tem um carisma inigualável. O show deles tem uma energia que vi poucas vezes.” Tamanha “energia” deriva diretamente da descarga de decibéis gerada pelo grito de milhares de adolescentes – a maioria meninas entre 10 e 16 anos –, que atiram ao palco todo tipo de objeto. Um dos técnicos de som, aliás, é responsável por recolher as bugigangas que vão de cartazes quilométricos com declarações de amor a calcinhas. O frenesi adolescente pode ser explicado não apenas pela produção hormonal das fãs. Os rapazes do NX Zero representam com perfeição os anseios e o comportamento de pré-adolescentes e adolescentes seguidores de uma espécie de filosofia do bem. Sem rebeldia, sem gritos de protestos, sem ódio. Um ideário que acerta em cheio os gostos da tribo de garotos e garotas sensíveis e melancólicos. É o público cativo do hardcore melódico de família, feito por garotos de família, que começa a moldar a cara do novo rock brasileiro. Ainda que contra o gosto de alguns.
CENAS DO NX ZERO
O guitarrista Fi mostra suas tatuagens antes de entrar na van com os integrantes do NX Zero rumo aos shows no interior paulista; o assédio das fãs antes e depois dos shows; flagrantes das apresentações do grupo em Campinas e São José dos Campos. Na volta para São Paulo, o guitarrista Gee se distrai jogando Elifoot em seu notebook.

Um comentário:

Talita Ackles disse...

Aff! Nx zero não é rock, é emocore!
Rock mesmo é Cannibal, sepultura... E não bando de emo