Eu devia ter uns cinco ou seis anos.
Quando a mamãe, com pressa, se esqueceu do ritual do Papai Noel. Aproveitou que era véspera de Natal, que o papai recebera algum dinheiro extra e me levou até um bazarzinho ao lado do antigo mercado de Mogi. O dono da loja nos atendeu e mostrou as últimas novidades em brinquedos. Um velocípede azul e vermelho faiscava na vitrine. Era o que eu pediria ao Papai Noel. Mas nem precisei. Mamãe pagou e já levou. E enquanto íamos pra casa, já anoitecendo, ela foi me avisando que o brinquedo ia ser dado depois. Pelo Papai Noel. Me levou pra dormir na casa da minha vó (naquele tempo, bem pertinho da minha casa).
Eu não estava entendendo bem a história.
Mas pelas tantas da noite vi minha mãe chegando ao quarto da minha avó, onde eu estava deitado, para colocar o velocípede ao lado da cama.
No dia seguinte eu já poderia brincar com o meu presente, trazido pelo “Papai Noel”.
Só que naquela noite, por falta da continuação do ritual, “caiu a ficha”. Eu descobrira que o Papai Noel nem sempre vinha pessoalmente. Usava mães, pais, avós, para fazer chegar até nós os brinquedos desejados. Provavelmente estava por trás até mesmo de quem fizera chegar o dinheirinho extra para o papai.
Os anos seguintes continuaram me mostrando Papais Noéis com várias caras. Uma vez era minha madrinha trazendo da fábrica onde ela trabalhava, um caminhãozinho de lata e uma espingardinha de rolha. Outra vez era minha tia-avó Conceição mandando castanhas e frutas exóticas para a noite de Natal, ou minha avó ou as primas dela me presenteando com o meu objeto de sonho: os grandes “almanaques do Globo Juvenil”, de capa dura, envelopados e transbordando de maravilhosas histórias em quadrinhos.
Os tempos passaram, a infância foi para o lugarzinho especial onde todos a guardamos, mas o velho Papai Noel continuou comparecendo.
Através dos primeiros mimos natalinos de uma namorada, dos colegas do escritório, dos amigos secretos...
Sempre o bom velhinho fazendo de conta que não é ele... Mas nos fazendo chegar lembrancinhas gostosas, simples ou sofisticadas, com gosto de Natal.
Até que houve um certo dia (ou certa noite, provavelmente), quando minhas filhinhas já tinham chegado, em que tive a revelação.
Estivera enganado a vida inteira.
Está certo que todos tinham me enganado com a melhor das intenções. Mas como é que eu não me dera conta disso?
Foi quando me peguei ajeitando, sorrateiro, os presentes das minhas filhas sob a árvore de Natal.
E de novo “caiu a ficha”.
Papai Noel era eu... também.
Quando a mamãe, com pressa, se esqueceu do ritual do Papai Noel. Aproveitou que era véspera de Natal, que o papai recebera algum dinheiro extra e me levou até um bazarzinho ao lado do antigo mercado de Mogi. O dono da loja nos atendeu e mostrou as últimas novidades em brinquedos. Um velocípede azul e vermelho faiscava na vitrine. Era o que eu pediria ao Papai Noel. Mas nem precisei. Mamãe pagou e já levou. E enquanto íamos pra casa, já anoitecendo, ela foi me avisando que o brinquedo ia ser dado depois. Pelo Papai Noel. Me levou pra dormir na casa da minha vó (naquele tempo, bem pertinho da minha casa).
Eu não estava entendendo bem a história.
Mas pelas tantas da noite vi minha mãe chegando ao quarto da minha avó, onde eu estava deitado, para colocar o velocípede ao lado da cama.
No dia seguinte eu já poderia brincar com o meu presente, trazido pelo “Papai Noel”.
Só que naquela noite, por falta da continuação do ritual, “caiu a ficha”. Eu descobrira que o Papai Noel nem sempre vinha pessoalmente. Usava mães, pais, avós, para fazer chegar até nós os brinquedos desejados. Provavelmente estava por trás até mesmo de quem fizera chegar o dinheirinho extra para o papai.
Os anos seguintes continuaram me mostrando Papais Noéis com várias caras. Uma vez era minha madrinha trazendo da fábrica onde ela trabalhava, um caminhãozinho de lata e uma espingardinha de rolha. Outra vez era minha tia-avó Conceição mandando castanhas e frutas exóticas para a noite de Natal, ou minha avó ou as primas dela me presenteando com o meu objeto de sonho: os grandes “almanaques do Globo Juvenil”, de capa dura, envelopados e transbordando de maravilhosas histórias em quadrinhos.
Os tempos passaram, a infância foi para o lugarzinho especial onde todos a guardamos, mas o velho Papai Noel continuou comparecendo.
Através dos primeiros mimos natalinos de uma namorada, dos colegas do escritório, dos amigos secretos...
Sempre o bom velhinho fazendo de conta que não é ele... Mas nos fazendo chegar lembrancinhas gostosas, simples ou sofisticadas, com gosto de Natal.
Até que houve um certo dia (ou certa noite, provavelmente), quando minhas filhinhas já tinham chegado, em que tive a revelação.
Estivera enganado a vida inteira.
Está certo que todos tinham me enganado com a melhor das intenções. Mas como é que eu não me dera conta disso?
Foi quando me peguei ajeitando, sorrateiro, os presentes das minhas filhas sob a árvore de Natal.
E de novo “caiu a ficha”.
Papai Noel era eu... também.
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