sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Submundo HQ N°245 - O "Aquaman": Segundo Peter David (Traduzido Por Martin Fernando)...

"Submundo" apresenta... Mais uma magnífica colaboração especial de Martin Fernando pro blog: Traduzindo um texto original de Peter David (de 2001) sobre "Aquaman" (que HOJE tá com um FILME em cartaz emplacando um mega-sucesso no cinema):
O escritor que reformulou o personagem na década de 90, fala da fase em que foi roteirista da revista do "Aquaman" e de como foi reformular o personagem (novo uniforme, barba e o arpão no lugar de uma das mãos), que passou a impor muito mais respeito entre os fãs!
Confira abaixo:
Como reformulei o Aquaman (Por Peter David):
Em grande medida, vejo a época em que escrevi Aquaman como um espetacular e ambicioso fracasso. Eu aceitei trabalhar no título por dois grandes motivos: o 1º é que "The Atlantis Chronicles" (minissérie em 7 edições publicada em 1990, com desenhos de Esteban Maroto e INÉDITA no Brasil) continua, depois de todos esses anos, entre os meus trabalhos favoritos. Quando essa série estava em produção, os chefões da DC - e quero dizer OS CHEFÕES mesmo - prometeram com entusiasmo que ela seria um dos destaques da editora, constantemente reimpressa à la Watchmen, com direito à títulos derivados e até merchandising. Nada disso chegou a se concretizar. A DC permanece resoluta em não oferecer nem mesmo um encadernado da série (em 2017, isso finalmente aconteceu), apesar dos pedidos dos fãs - e com Bob Greenberger (editor da DC entre 1984 e 2000, que trabalhou na minissérie escrita por David) na Marvel agora, a única pessoa que ainda encabeçava um movimento a favor do encadernado foi embora. Então, eu imaginava que, ao assumir Aquaman, incorporando elementos narrativos originados nas crônicas, isso poderia promover um encadernado da série. Bom, ainda não aconteceu. E, nessa altura, não tenho mais esperanças. O projeto é claramente impraticável… ainda que, curiosamente, tenham conseguido realizá-lo na Itália! Fracasso número um! O segundo motivo pelo qual aceitei fazer os roteiros da revista é que eu queria estabelecer o Aquaman não só como um personagem que podia ser levado a sério, mas que também podia ser uma peça importante no Universo DC, capaz de manter um título próprio mesmo após minha inevitável partida. Então, por fim, deixei a série. Alguns anos depois, ela foi cancelada, e o Aquaman foi morto no evento "Mundos em Guerra" (Our Worlds At War, de 2001)! Fracasso número dois.

Agora não tenho ideia se o Aquaman está, de fato, permanentemente morto. Não tive a chance de perguntar a ninguém da editora. É óbvio que eu espero que não esteja. O Aquaman sempre foi um dos meus heróis favoritos, simplesmente porque é o único que pode, de alguma forma, existir de verdade. Pense bem. Se existissem caras como Super-Homem, Batman e tal. correndo por aí, nós já saberíamos. Haveria reportagens em todos os jornais, em todas as redes de televisão. Provavelmente alguns canais de TV a cabo seriam dedicados só a eles. Mas sabemos que não é assim, e, consequentemente, eles permanecem no reino da pura fantasia, que nunca será realizada. Entretanto, o oceano é um lugar vasto e misterioso. Há profundezas que nunca foram alvo de nenhuma forma de escrutínio humano. Posso sentar na praia, mirando as ondas, e pensar: Talvez... Talvez realmente exista alguém capaz de sobreviver no oceano e conversar com os peixes. Talvez realmente existam criaturas sirenes ou cidades habitadas por elas. Não quero soar muito místico, mas se você me disser: “prove que existem”, eu diria: “prove que não existem”!

Minha passagem pela revista Aquaman começou com um arco de 4 edições que seria incorporado à série corrente. Eu teria ficado bem satisfeito com isso, mas decidiram que esse arco, intitulado "Time and Tide", deveria ser publicado em uma minissérie avulsa, que antecederia o relançamento do título (essa minissérie não chegou a ser publicada no Brasil). O que mostro a seguir são os primeiros registros de minhas ideias para o Aquaman, produzidas como parte da sinopse de "Time and Tide": Em que exploramos as origens de um herói que, em termos mitológicos, tem potencial para ser tão influente quanto outros personagens lendários. O que sabemos dele até o momento tem paralelos com histórias como as de Rômulo e Remo, Mogli e Tarzan dos Macacos. Além disso, os oceanos, que cobrem ¾ da superfície terrestre, continuam sendo uma das últimas grandes fronteiras de nosso planeta. Aquaman está totalmente à vontade nesse limiar. 

Sua habilidade de se comunicar com as criaturas marinhas é única. Sua força, consequência da capacidade de sobreviver nas profundezas do oceano, é considerável. Se estiver em terra firme, consegue mover-se mais rápido, saltar mais alto, ser mais forte que qualquer humano normal. Ele é, até certo ponto, invulnerável – afinal, sua pele, assim como os ossos e músculos, deve ser extremamente resistente. Um míssil pode matá-lo, mas uma munição de baixo calibre só vai derrubá-lo ou causar ferimentos leves… como se vestisse kevlar. Em vez de ser um dos mais limitados personagens do universo DC, Aquaman é – se trabalhado do jeito certo — um dos mais ubíquos. E se ele é, de fato, o senhor das águas, então é igualmente… para todos os propósitos… o senhor do mundo. Ninguém mais neste planeta pode fazer o mesmo que ele. Muitos têm superforça. Muitos são invulneráveis. Conhecimento científico, poderes mágicos, supervelocidade… sobrepõem-se em todas as áreas. Mas não há ninguém capaz de atuar com níveis superpoderosos em qualquer ambiente do mundo. Seja na terra ou no mar, Aquaman é uma força a ser considerada.  

Essa foi sempre minha abordagem, o que ia contra aqueles que o consideravam, de alguma forma, inferior aos outros heróis. Meu argumento era que se o Aquaman fosse jogado no meio de Gotham e deixado à própria sorte, ele se daria bem. Se o Batman fosse lançado no meio do Atlântico, com nada além da capa nas costas, as chances de nunca mais ouvirmos falar dele seriam grandes… especialmente se fossem águas infestadas de tubarões. Falando em tubarões, considero que eles foram um dos meus poucos sucessos na série. Todo mundo adorou a maneira como eu os representei: grandes e tapados celerados com memória curta de apenas vinte segundos, sem nenhum interesse além da alimentação. Uma cena típica era um tubarão cruzando o oceano com o seguinte balão de fala: “Comida. Comida. Comida. Comida. Comida. Olá, Aquaman. Comida. Comida. Comida”. Na sua estupidez, eles eram quase adoráveis. Era um grande contraste em relação à reputação de “monstro assassino das profundezas” que ganharam desde o filme Tubarão. É revoltante não haver uma revista do Aquaman agora [em 2001]; os relatos de enormes cardumes de tubarões que estamos ouvindo recentemente seriam um ótimo pano de fundo para as histórias.
O aspecto mais controverso da minha passagem na revista foi, naturalmente, a perda da mão de Aquaman e a substituição dela por um arpão (aquilo não era um gancho, droga!). Pessoas de todo canto execraram a ideia, ainda que comprassem a revista, o que certamente era a minha intenção o tempo todo. Apesar de conseguir justificar esse acontecimento no enredo, a verdade é que não se contrata um roteirista com a expectativa de que ele produza uma HQ que ninguém queira comprar. Eu sinto que existe a obrigação de desenvolver narrativas que façam as pessoas desejarem comprar as revistas. Aquaman tinha a reputação de ser um peso leve em vendas, tanto que, quando me anunciaram no título, a resposta não foi, “Nossa, mal posso esperar para ver Peter David escrevendo Aquaman!”. Em vez disso foi, “Nossa, por que o Peter David está perdendo tempo com esse inútil cabeça de bagre?”.
A fama era tão negativa que eu precisava desenvolver algo extremamente drástico só para convencer os leitores a folhearem a revista. Não foi fácil vender essa ideia aos todo-poderosos da DC. Foi preciso muitos memorandos para explicar tudo antes de receber a aprovação. No final da minha passagem na revista, ouvi repetidas vezes que os chefões não estavam satisfeitos com as vendas. Parecia que algo tão dramático quanto a perda da mão de Aquaman era necessário para reacender o interesse dos leitores, o que para mim é irônico, considerando a resistência que enfrentei para emplacar o evento inicial. Em um memorando, sugeri os possíveis desenvolvimentos:

▪ Náiade, a elemental da água, é aniquilada por Triton [filho de Poseidon], que escraviza Corona [que, antes de ser a elemental do fogo, era Kako, mãe de  Koryak, filho ilegítimo de Aquaman, que acompanhava o pai nas histórias dessa época]. Aquaman, em seguida, luta com Triton e morre defendendo Poseidonis… para então se transformar no novo elemental da água. Ele mantém a forma humana, mas recebe novos poderes – bem diferentes daqueles de Náiade.
▪ Aquaman ganha o Prêmio Nobel da Paz.
▪ Aquaman é nomeado secretário-geral das Nações Unidas.
▪ Um dia, Aquaman aparece em Poseidonis – com o cabelo cortado, a barba feita, de volta ao velho uniforme, a mão intacta – querendo saber onde estão Mera e Arthur Júnior. Quando lhe perguntam que diabos aconteceu, ele responde que não tem ideia do que estão falando, e afirma que ficou preso em um bizarro redemoinho, mas que escapou após alguns minutos, “e o que querem dizer com Mera se foi, Arthur está morto, Aquagirl está morta, Garth cresceu, e eu perdi a mão? Isso é loucura!”.
▪ Arthur se torna filho adotivo de Poseidon.

Uma possível história, não listada acima, poderia ter acontecido quando Harlan Ellison demonstrou grande interesse na Devil’s Deep, uma fenda sem fundo que eu apresentei em um dos roteiros (Aquaman #29, 1997, não publicada no Brasil), deixando implícito que ela descia até o inferno. Harlan propôs que desenvolvêssemos uma longa saga, que ele e eu escreveríamos juntos, e que tomaria grande parte do ano, sendo o equivalente da DC ao Inferno de Dante. Imagino que isso venderia algumas cópias, não? O editor (Kevin Dooley) chegou e disse que podíamos fazer… em uma única edição, com vinte e duas páginas. Claro. Por que perder um ano com as histórias de Ellison para atrair o interesse do leitor quando você pode ter uma edição avulsa sem nenhum impacto nas vendas? Percebendo que apenas um número não faria jus à trama, Harlan disse para esquecer o caso, e foi isso.

Dos desenvolvimentos sugeridos por mim, o que mais me interessou foi o do elemental da água. Eu até coloquei o enredo em ação, que culminaria com o Aquaman morrendo e Triton ameaçando inundar o mundo, para então Aquaman ressurgir como um elemental. Mas tudo foi interrompido porque, pelo que me disseram, desde que o Super-Homem retornou após a Morte do Super-Homem, ninguém acreditaria num artifício tão barato e óbvio como o Aquaman “morrendo”. Assim, todo o conceito (desculpe a expressão) naufragou. Finalmente, depois de receber uma instrução editorial mais contraditória que a outra – como ter Aquaman operando como um lobo solitário, mas mostrá-lo como um líder; ter histórias em Atlântida, mas evitar que o Aquaman esteja em Atlântida –, eu desisti e (mais uma vez, desculpe a expressão) abandonei o barco. E agora (em 2001) Aquaman está morto. Se ele retornar como um elemental da água, você ouviu isso pela primeira vez aqui.

Peter David

(“On Writing Aquaman”, Comics Buyer’s Guide #1453, 21 set. 2001. Disponível em: www.peterdavid.net/2014/10/13/on-writing-aquaman/)

Tradução de Martin F. A. Gonçalves
Até+
PS: O "Submundo" agradece à mais esta colaboração especialíssima de Martin Fernando pro blog (após a excelente matéria: "BATGIRL - Desconstruindo Bárbara Gordon")... E depois de mais este texto traduzido, bateu aquela vontade de ler a fase Peter David na íntegra (quem sabe um dia republicam ela por aqui. né)? 
Submundo.jpg (611 × 452)
Créditos:) Leo Radd http://submundo-hq.blogspot.com/2019/01/o-aquaman-segundo-peter-david-em-texto.html

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