terça-feira, 16 de julho de 2024

Arquivos Turma da Mônica N°1.277 - Chico Bento: HQ "Ô, Preguiça!"

Capa de 'Chico Bento Nº 97' (Ed. Abril, 1986)

Mostro uma história em que a emoção da preguiça queria o controle o corpo do Chico Bento aproveitando que ele estava muito preguiçoso. Com 12 páginas, foi história de abertura publicada em 'Chico Bento Nº 97' (Ed. Abril, 1986).

Começa com o Chico Bento recebendo várias reclamações de que está preguiçoso: da mãe mandando acordar para ir para escola, dos amigos mandando andar mais rápido para não chegar atrasado na escola, da Professora Marocas falando que ele não fez a lição de casa. 

Na saída da escola, Chico queria que a Rosinha carregasse o material dele, inventando que tinha dado mal jeito nas costas e não podia carregar peso. Rosinha bate os livros na cabeça dele, falando que é preguiça que ele tem. Chico diz que se é isso que ela acha, não vai discutir e a turma comenta que ele está preguiçoso até para brigar.

Depois, Chico para ao lado de uma árvore, diz que a casa ainda está longe e a cada dia demora mais para chegar lá e resolve descansar sentado em frente à árvore. Dá um tempo e grita para os amigos que preguiçoso é a vovozinha, reforçando que estava com pensamento lento. Em seguida, ele vê uma goiaba na ponta da árvore e dorme de boca aberta para quem sabe a goiaba caia de uma hora para outra.

A goiaba cai na cabeça do Chico e vai parar longe. Chico comenta que se tivesse a boca mais aberta, a goiaba cairia bem na goela dele, não consegue alcançá-la com o pé e teria que levantar, aí se dá conta que não consegue . Então, surge uma voz de mulher dizendo que nem vai conseguir, nem adianta tentar. Chico pensa que é um sonho se belisca e mesmo assim não consegue se levantar.

A voz da mulher fala para o Chico que só vai se levantar quando ela quiser. Chico quer saber quem está falando, que não o conhece quando ele está brabo. Então, ela sai do corpo dele, uma versão feminina do Chico com voz de mulher e laço na cabeça. Chico se espanta com o que viu e reclama que ela acabar com a imagem de macho dele.

Ela se apresenta que é a Dona Preguiça, que veio de dentro dele. Cada pessoa tem vários lados como o trabalhador, o inteligente, o alegre, o simpático e ela é o lado preguiçoso dele, conta que o Chico anda preguiçoso para tudo, inclusive para namorar, e isso a fortaleceu, até dominar todos os outros lados e tomar conta do corpo dele. Chico pergunta o que ela vai fazer agora e Dona Preguiça responde que vão ficar ali sem fazer nada, vai ser gostoso ficar sem trabalhar, estudar, brincar, só olhar os outros se cansarem.

Chico fala que não quer ser mais preguiçoso, Dona Preguiça diz que é tarde demais, ela está mais forte que a vontade dele. Chico fica triste que não vai mais poder brincar com o pessoal, nem roubar goiaba do Nhô Lau, nem namorar Rosinha e passear com ela de mãos dadas, e a tristeza dele fortalece o lado triste dele, que sai do corpo. Dona Preguiça manda a Tristeza voltar para o corpo, Chico fica com muita raiva, despertando o lado brabo dele sair do corpo. A Raiva ordena que ela volte para o corpo do Chico e a Tristeza diz que está fazendo mal para ele.

Dona Preguiça se recusa e desperta o lado teimoso do Chico, que quando cisma com alguma coisa, é pior que mula. Então as três emoções, Tristeza, Raiva e Teimosia, partem para cima da Dona Preguiça, conseguem carregá-la fácil porque ela tem preguiça de reagir e todos voltam para o corpo do Chico se tornando um só. 

Ele fica feliz que pode se mexer de novo, pega a goiaba do chão e come, carrega material da Rosinha da escola, faz a lição de casa da escola, trabalha na roça com o pai até além da hora. Antes de dormir, diz que aprendeu a lição de que preguiça nunca mais. Quando amanhece, Dona Cotinha chama para acordar, Chico diz que quer ficar mais pouquinho dormindo e as emoções Tristeza, Raiva e Teimosia  dão chute bem forte no Chico para sair da cama.

História legal em que o Chico andava preguiçoso além da conta e, assim, o seu lado preguiçoso se fortalece e cria vida querendo ter o controle total do corpo dele. As emoções de tristeza, raiva e teimosia também ganham força através do sentimentos fortes que o Chico sentiu e elas conseguem levar de volta a Dona Preguiça para o corpo do Chico, em melhor mensagem que a união que faz a força e que é a mente que controla tudo no corpo.

Cada emoção do Chico saía do corpo dele quando estava fortalecida, se dividiam e eram independentes. Chico sempre foi marcado por várias facetas de personalidades e nessa cada uma delas criaram vida própria e, juntas, se tornava um só Chico Bento. A princípio até dava para pensar que era plano da turma para ver se davam lição no Chico, já que falaram que precisam fazer alguma coisa, mas vimos depois que era verdade as emoções criando vida. Mesmo com tudo que passou, Chico não aprendeu lição no final, precisando as emoções darem chute para sair da cama, se deixassem, a preguiça ia dominar de novo o corpo dele.

No inicio, vimos o Chico extremamente preguiçoso, sendo que na parte de não carregar material, além de preguiçoso, ainda foi mentiroso, era capaz de tudo para fazer nada. Gostei também das interações entre as emoções dele e cada uma representada como cópia do Chico sem dente e com expressão do sentimento mostrado. A Preguiça foi única representada por mulher e, então, vimos como seria uma versão feminina do Chico. 

Foi engraçado ver o pensamento lento do Chico de só depois de muito tempo responder provocação que ele era preguiçoso, ele dormir de boca aberta (se não tivesse preguiçoso, ia subir na árvore para pegar a goiaba), dizer que a forma da Dona Preguiça iria acabar com a imagem de macho dele, pensamento de Chico velho com teia de aranha parado olhando os outros passarem. 

Incorreta por tema de Chico ser preguiçoso, já que hoje ele não é mais assim, Rosinha bater nele com livros, Chico comer goiaba que caiu do chão, trabalhar na roça, falarem que crianças namoram, Chico levar chute das suas emoções. Além disso tiveram várias palavras proibidas nos gibis novos como "Diacho!", "azar", "gozado", "trabalhar" (no sentido de criança trabalhar), "roubar" (goiaba do Nhô Lau), termo "é a vovozinha", Chico dizer "acabar com a minha imagem de macho" e certas palavras do caipirês não são mais usadas como "mió". Ou seja, se resolvessem republicar hoje, teria um festival de alterações.

Traços muito bons, já da fase consagrada dos personagens. A Rosinha ficou diferente com nariz em formato " ^ " e sem brilho no cabelo, isso variava de desenhista, pois ela já apareceu outras vezes assim. Propaganda inserida na história foi do lápis "Labra", muito comum nos gibis da Editora Abril. Foi republicada depois em 'Almanacão de Férias Nº 20' (Ed. Globo, 1996).

Capa de 'Almanacão de Férias Nº 20' (Ed. Globo, 1996) 

Créditos - Marcos Alves: 
https://arquivosturmadamonica.blogspot.com/2024/07/chico-bento-hq-o-preguica.html

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