domingo, 13 de novembro de 2022

Arquivos Turma da Mônica N°1.098 - Chico Bento: HQ "O brilho do poder"

Capa de 'Chico Bento Nº 69' (Ed. Abril, 1985)

Compartilho uma história em que o Chico Bento encontra um diamante no roçado e faz de tudo para escondê-lo de todo mundo para ficar com a riqueza só para ele. Com 10 páginas, foi história de abertura de 'Chico Bento Nº 69' (Ed. Abril, 1985).

Chico Bento está trabalhando na roça e reclama que só tem trabalho, escola e mais trabalho. Lembra que viu na cidade todos com carrões bonitos e comendo em lugar chique e não davam duro que nem ele, só vivem no bem-bom. Seu Bento interrompe, reclamando se o filho vai ficar muito tempo pensando na vida e têm que trabalhar.

Chico, bem brabo, volta a reclamar que é só trabalho que se faz na vida, bate enxada em uma pedra e quebra. Ele vai verificar, acha bonita, brilha muito, não parece vidro, esmeralda nem turmalina e descobre que era um diamante. Ele corre pra contar para os pais, mas no caminho pensa que todos da vila ficariam encantados com o diamante, que mudariam a vida deles e esqueceriam que a pedra era dele.

Com isso, Chico disfarça, que não escutou gritaria, escondendo o diamante dos pais e vai embora, pedindo licença que tem outras coisas para cuidar. Ninguém vai tirar diamante dele e vai na joalheria do Nhô Tonho para avaliar quanto vale, mas chegando lá, vê que tinha o Padre, Nhô Lau, Rosinha e Professora Marocas em frente a joalheria.

Como conhece todo mundo, Chico pensa que não iam querer tirar dele, mas logo prevê na pedra o padre falando que por penitência de ser moleque travesso, vai reformar a igreja, vão construir outro altar com a pedra, Rosinha vestida de noiva querendo casar porque ele ficou rico e está muito tempo cozinhando o galo, e vai comprar 300 vestidos e 500 blusas, Nhô Lau querendo Chico pagar todas as goiabas que roubou disputando com a Professora Marocas querendo pagar o sacrifício o que é ensinar para ele.

Chico grita que diamante é dele, chama atenção dos que estavam em frente a joalheria e ele foge para loja do Nhô Tonho, que estava fechada e ele foge para bem longe sem ninguém ver o diamante. Chico vai pra casa, não consegue dormir e resolve enterrar o diamante embaixo de uma pedra em local bem longe, só que tem medo de alguém ter o seguido e, então, dorme, ao lado da pedra até amanhecer, quando acorda com a buzina do carro do Nhô Tonho.

Mandando pessoal na rua  irem embora, Chico entra na joalheria, quer saber quanto vale o diamante e  Nhô Tonho diz que vai fazer teste se é mesmo um diamante riscando um quadrado no vidro da estante, se for, vai cortar como manteiga. O vidro não corta e Nhô Tonho diz que ele só tem uma pedra de cristal sem valor. Chico fica triste e joga o diamante no ribeirão, se conformando que não ia se acostumar com a vida de rico. Nhô Tonho fecha a loja para tomar um refresco com o Chico no bar do Seu Joaquim e quando fecha a porta e sem eles verem, o vidro da estante se quebra, confirmando que era um diamante que o Chico jogou fora.

História muito legal em que o Chico Bento encontra um diamante enquanto trabalha na roça e não quer dividir a riqueza com ninguém, escondendo de todo mundo, inclusive dos pais dele. Ao passar sufoco, precisando enterrar debaixo de pedra e dormir em frente à pedra até amanhecer para ver quanto vale na joalheria, Nhô Tonho acha que não é diamante porque não cortou o vidro da estante, mas foram só eles saírem para o vidro cortar e Chico perdeu chance de ficar rico.

Vimos o Chico ganancioso, egoísta, não confiar nos seus próprios amigos e nem familiares, ele já tinha desejo de ficar rico para não trabalhar mais, só que a pedra tinha poder de deixar pessoa gananciosa e com ela em suas mãos queria o poder só para ele. Foi muito engraçado ver o Chico pensar que as pessoas ricas da cidade não precisaram de trabalhar pra ter carros luxuosos e comer em restaurantes chiques, falar sozinho, as previsões do futuro do que o povo da roça ia reagir se visse com o diamante, principalmente a professora Marocas achar que devia ficar para compensar o sacrifício de ensinar um aluno burro como ele. 

O final ficou em aberto, permitindo ao leitor imaginar a sequência de quando Nhô Tonho voltou pra joalheria, o que fez quando viu o vidro da estante cortado e se Chico voltou junto, também qual foi a reação dele de ter perdido oportunidade de ficar rico, se tentou procurar no riacho. Era comum histórias com finais em abertos para o leitor imaginar. Interessante que além de se divertir bastante, leitores ainda aprende que pra saber se é um diamante, tem que cortar vidro, ou seja, dava para aprender se divertindo nas histórias antigas, sem deixar didático. 

É toda incorreta atualmente por causa do tema de ganância, de egoísmo, sem querer dividir riqueza com os outros, fora ser totalmente proibido mostrar Chico trabalhando na roça, sair de madrugada para enterrar diamante e dormir no relento, além de palavras proibidas como "droga", "diacho" e "roubar" (hoje colocam que eles não roubam goiabas, e, sim, que eles pegam goiabas). O Padre ainda não tinha nome nem traços definidos ainda na época, só depois que passou a ter nome fixo como padre Lino. E o joalheiro Nhô Tonho apareceu só nessa história.

Os traços muito bons, já no estilo de desenhos da fase consagrada dos anos 1980. Era legal os pensamentos retratados com efeito de colorização azul e nessa até teve uma colorização laranja no primeiro quadrinho, pra demonstrar riqueza do povo da cidade. Cabelo da Rosinha com brilho azul porque era característica dos gibis de 1985 personagens com brilho azul no cabelo em vez de branco. Teve erro Nhô Lau sem bigode, poderia ser até um visual novo de ter tirado bigode, mas ele apareceu com bigode em um quadrinho, apontando erro, então.


A capa teve piadinha normal, sem relação à história de abertura, mas teve anúncio do título da história, um recurso que gostavam de colocar nas capas da Editora Abril, mas que ficava meio poluído de alguma forma  Nas propagandas inseridas na história, dessa vez foi só na lateral direita da primeira página das canetas hidrográficas Colorella, da "Pelikan". Foi republicada depois em 'Almanaque do Chico Bento Nº 29' (Ed. Globo, 1995).

Capa de 'Almanaque do Chico Bento Nº 29' (Ed. Globo, 1995)

Créditos ;) Marcos Alves: https://arquivosturmadamonica.blogspot.com/2022/11/chico-bento-hq-o-brilho-do-poder.html 

Charges/Cartuns! ★ N°214.801 a N°214.900