terça-feira, 20 de agosto de 2024

Arquivos Turma da Mônica N°1.287 - Mônica 60 Anos

Mônica completou 60 anos em 2023 e a MSP lançou um livro especial comemorativo. Nessa postagem faço review de como foi esse livro.

Mônica foi criada em 3 de março de 1963 em uma tirinha do jornal "Folha de São Paulo" e como sempre fazem edições especiais quando personagens fazem aniversários a cada 10 anos, ela não podia passar em branco. Com essa edição da Mônica, a do Cebolinha e da futura "Magali 60 Anos", só Cascão e Chico Bento não tiveram livros comemorativos pelos seus 60 anos, teriam que ter feito ambos em 2021.

"Mônica 60 Anos" foi lançado em novembro de 2023 pela Editora Panini vendido em livrarias físicas, bancas de jornais e sites na internet.  Com capa dura e miolo com papel off-set, 162 páginas e com preço R$ 89,90. Um preço bem caro comparado a outros livros comemorativos de criações de personagens, inclusive do último do "Cebolinha 60 Anos", que foi R$ 49,90. Bem que poderia ter duas versões, uma em capa dura de luxo e outra com capa cartonada e papel de miolo simples com preço mais baixo e aí a pessoa escolhesse qual versão que achar melhor. Eu comprei na internet em abril de 2024 por R$ 53,00 mais frete de R$ 10,50, ficando, então por R$ 64,50, só assim para conseguir ter.  

A capa foi uma montagem com quadrinhos das histórias que se encontram no livro. Não gostei dessa capa, tira a surpresa das histórias que têm, a gente já fica sabendo do conteúdo só olhando a capa e tira a expectativa do que poderia encontrar. Fora que não teve criatividade para criar uma ilustração nova, só colocando imagens que já tem. Inclusive, a Mônica central também foi tirada de história "Amor pestinha", só alterando o olho aberto para não mostrá-la dormindo em uma capa. Essa ilustração aqui, é um exemplo de uma capa bem melhor que poderia ter sido a capa do livro, era só colorir a Mônica central e o logotipo oficial no alto.

Ilustração comemorativa de Mônica 60 Anos que poderia ter sido a capa do livro

O livro abre com frontispício explicando sobre o livro e a personagem, sem grande texto criativo, foi apenas para dizer que são histórias de outros tempos e costumes e que não fazem mais histórias assim. Nota-se que nem personagens presos em rede não pode mais atualmente. E teve um erro no texto, foi só a Mônica que foi aprisionada na história "Mônica, a sereia", não a Magali.

Frontispício da edição

Em seguida, vem as histórias, deixando extras com as curiosidades da Mônica no final do livro. A relação das histórias publicadas nele, com o número da edição e ano de cada foram essas:

  1. "Mônica contra o Capitão Feio" (MN # 31 - Ed. Abril, 1973)
  2. "A força da mente" (MN # 68 - Ed. Abril, 1975)
  3. "Mudanças e costumes" (MN # 194 - Ed. Abril, 1986)
  4. "A ilha misteriosa" (MN # 72 - Ed. Globo, 1992)
  5. "Amor pestinha" (MN # 77 - Ed. Globo, 1993)
  6. "Mônica, a sereia" (MN # 125 - Ed. Globo, 1997)
  7. "Aniversário da Mônica, presente de grego" (MN # 123 - Ed. Globo, 1997)
  8. "A deusa da força" (MN # 159 - Ed. Globo, 1999)
  9. "Mônica adormecida" (MN # 162 - Ed. Globo, 2000)
  10. "Hora de dormir! Mas com o Monicão, não!" (MN # 13 - Ed. Panini, 2008)
  11. "Vendo coisas" (MN # 2 - Ed. Panini, 2015)
  12. "Monicão brinquedão" (MN # 31 - Ed. Panini, 2017)


Pode perceber que praticamente não tiveram histórias da Editora Abril, deixaram apenas 30 páginas para Abril, com duas histórias dos anos 1970 e apenas uma dos anos 1980. Edição que é para mostrar a trajetória de personagem e diferenças de traços de todos os tempos acho lamentável deixar quase esquecida a fase da Editora Abril. Tantos traços marcantes ficaram de fora, nenhuma sequer da segunda metade dos anos 1970, nem do estilo superfofinho entre 1977 a 1979 que marcou época. 

De clássica dos anos 1970 foi só "Mônica contra o Capitão Feio" com a estreia do vilão, que inicialmente era tio do Cascão que se transformava no Capitão Feio em contato com a poeira da sua coleção de gibis antigos. E colocaram uma história de miolo, "A força da mente" em que a Mônica quer pegar maçãs de uma árvore com objetos frutos da sua imaginação. Essa representando o absurdo, nonsense, nada com nada característicos da época, a única desse estilo de toda a Editora Abril e a única, de fato, rara nos dias de hoje. 

Trecho da HQ "Mônica contra o Capitão Feio" (1973)

Pior ainda foi anos 1980 ficar restrito apenas à história "Mudanças e costumes", de 1986. Detalhe de ser a única da Editora Abril da década neste livro e teve nenhuma da Editora Globo entre 1987 a 1989 para ter outra da década. A melhor fase deles, basicamente de fora do grupo e pelo visto só colocaram "Mudanças e costumes" porque tem reflexão sobre machismo e mensagem de igualdade de direitos femininos, por ter lição de moral. Curiosidade nessa da Dona Luísa não tinha nome fixo ainda, foi chamada de Santinha pelo Seu Sousa e não alteram cenas incorretas como, por exemplo, Mônica levar puxão de orelha da mãe, pelo visto por causa da mensagem que queriam passar, teriam que mostrar as cenas e falas incorretas para não dar incoerência.

Essa história é legal, mas tem tantas outras da Editora Abril e da Globo que mereciam estar em um livro assim. Parece que têm implicância com anos 1980, visto que o livro "Cebolinha 60 Anos" teve nenhuma daquela década, simplesmente ignoram a fase de ouro deles. Se for pelo politicamente correto, sabendo procurar, dá para encontrar histórias possíveis de republicações e que não sejam incorretas.

Trecho da HQ "Mudanças e costumes" (1986)

Enquanto isso, nota-se que a década de 1990 veio em peso no livro, foram 5 histórias republicadas, reservando 79 páginas do livro. E ainda assim, a maioria da segunda metade da década. Achei um exagero, gosto dos anos 1990, mas também não precisava de tantas histórias e no lugar davam para colocar mais anos 1970 e 1980. E sem contar que traços que marcaram anos 1990 ainda ficaram de fora como o estilo dos personagens com língua ocupando espaço maior na boca entre 1993 a 1996, por exemplo.

Com isso, de 1986 já pula para 1992, com a história "A ilha misteriosa", que depois virou desenho animado, é legal essa em que Mônica e Cebolinha pensam que foi parar em uma ilha depois de se perderem na praia. Curiosidade nessa de Cebolinha dizer que é mais velho que a Mônica porque na época não tinham datas fixas de aniversário, só se contasse como data de criação dos personagens pelo Mauricio. Curioso que apareceu a Mônica com dedos nos pés no último quadrinho da segunda página, esqueceram de colocá-la com pés sem dedos na revista original e nem corrigiram, assim como mantiveram cenas com ela falando de boca fechada.

Trecho da HQ "A ilha misteriosa" (1992)

Em seguida, vem "Amor pestinha" em que a Mônica pensa que o Cebolinha está namorando a menina Liliane, representando histórias de planos infalíveis. Depois, duas histórias longas de 1997 em sequência, "Mônica, a sereia", representando histórias de personagens se transformando em alguma coisa, e "Aniversário da Mônica, presente de grego", representando histórias de aniversário dela Seguindo cronologia, inverteram posição entre elas, já que a do Aniversário da Mônica saiu duas edições antes da "Mônica, a sereia". E ainda teve anos 1990 com "A deusa da força", representando histórias de força exagerada da Mônica e viagens para outras épocas.

Trecho da HQ "Aniversário da Mônica, presente de grego" (1997)

Anos 2000 foram duas histórias ocupando 29 páginas do livro, uma da Globo e uma da Panini. A "Mônica adormecida" representou histórias de fábulas e paródias e como é do início do ano 2000, ainda com cara  de histórias do final da década de 1990. Vale destacar também que o livro não teve história escrita pelo Emerson Abreu e com estilo clássico dele com personagens eufóricos e com caretas excessivas. Acho que em livros assim, além de características e traços marcantes das personagens, deviam ficar atentos a escolherem histórias de cada um dos principais roteiristas da MSP de todos os tempos e seus estilos clássicos de escrever.

Trecho da HQ "Mônica adormecida" (2000)

E outra dos anos 2000 foi "Hora de dormir! Mas com o Monicão, não!", já da Panini, com Mônica tendo que lidar com o Monicão que não a deixava dormir. Já Anos 2010 foram duas histórias curtas, ocupando 10 páginas do livro, a primeira "Vendo coisas", de plano infalível da Mônica pensar que não estava enxergando bem e precisava usar óculos, e finaliza com "Monicão brinquedão", outra do Monicão, dessa vez detonando os brinquedos da Mônica. Tinham histórias infinitamente melhores de planos do que essa "Vendo coisas" e acho nada a ver duas histórias com Monicão e uma parecida com outra, sem contar que o cachorro dela também participou na história "Aniversário da Mônica, presente de grego".

Trecho da HQ "Monicão Brinquedão" (2017) 

Em relação a terríveis alterações, tiveram muitas dessa vez, nunca vi tantas modificações em uma mesma edição, umas simples, outras revoltantes, inclusive várias em mesma história tirando todo o sentido. Nem foram muitas alterações de cores e em desenhos, mas em textos foram bastantes, tudo para favorecer o politicamente correto ou deixar de acordo com a norma culta de escrita. Como foram tantas mudanças, resolvi mostrar em uma próxima postagem à parte reunindo todas as alterações que tiveram nesse livro.

O "Extras" com curiosidades da Mônica ficaram no final do livro (nos livros comemorativos de 50 anos colocavam no início deles). Ocupou 6 páginas de curiosidades nos extras, bastante curiosidades por páginas. Mostraram, dentre outras, sobre o Sansão, Monicão, edições da "Folhinha de São Paulo", entre outras coisas. Bom que mostrou várias imagens da "Folhinha de São Paulo", pena que em miniaturas e as imagens das histórias citadas também ficaram em preto e branco, não coloridas.

Uma página de curiosidades do livro

A contracapa foi uma ilustração recente e já existente da capa da 'Mônica Nº 37' (Ed. Panini, 2023) com a Mônica dos anos 1970 e a atual juntas atravessando o portal do tempo. O que chama atenção é mostrar, abaixo do código de barras, que a classificação indicativa é de 14 anos, algo inédito até hoje. Como o livro teve histórias envolvendo Capitão Feio poluindo cidade e Cascão adorando, Dona Luísa puxar orelha da Mônica, crianças perdidas sozinhas em uma suposta ilha, namoro de crianças, Mônica presa em uma rede, personagens apanhando, entre outras coisas, o politicamente correto não permite e acha que tais cenas não são adequadas para as crianças e se tirassem, ia tirar o sentido das histórias. Mesmo com as várias alterações feitas, mas por causa dos temas das histórias não deixaram com classificação livre e, então, quem tem menos de 14 anos não pode ler esse livro. Bem bizarro Turma da Mônica sempre ser associada a crianças e elas não poderem ler essa edição. Então, todos os gibis da Abril e Globo não podem ser lidas pelas crianças de hoje, os gibis antigos são apropriados só para maiores de 14 anos. Se não tivessem feito as alterações, o conteúdo seria para 16 anos ou mais.

Contracapa da edição

Então, para mim foi um livro básico, apenas uma comemoração para não deixar a data de 60 anos da Mônica passar em branco. Muitas histórias longas, faltaram clássicos marcantes e mostrar mais traços diferentes em cada década, podia ter mais histórias raras, foram poucos anos 1970 e 1980, praticamente não teve e o que colocaram nada tão clássico. Teve muito anos 1990 e ainda com duas histórias de 1997 perto da outra, muitas histórias "de época" e de fábulas, nenhuma de planos infalíveis clássicos com direito a Cascão estragando tudo no final e meninos apanhando feio, sem necessidade duas histórias com Monicão, e o pior muitas alterações em relação às histórias originais a favor do politicamente correto, avacalhando e virando outras histórias. Além disso, as histórias de anos 1990 e 2000 já tinham sido republicadas em almanaques da Panini, inclusive algumas saíram umas duas ou mais vezes na Panini, então, para quem busca raridades em livros comemorativos assim se decepciona. Vale comprar se quiser ter ou gostar de edições comemorativas na coleção. Fica a dica. 

Créditos - Marcos Alves: 
https://arquivosturmadamonica.blogspot.com/2024/08/monica-60-anos.html

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