segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Submundo HQ N°9 : "Star Wars - Sombras do Império": O Filme Que Não Existiu....

SW+Sombras+1.jpg (650×980)
O "Submundo" apresenta.... Mais uma matéria especial produzida pelo Cesar Leal (colaborador do blog) sobre o projeto multimídia que foi: "Star Wars - Sombras do Império" (o Vol. 39 da Coleção Deagostini)!

A trama se passa entre os filmes: "O Império Contra-Ataca" e "O Retorno de Jedi".... E o projeto teve início em 1996: Rendendo um LIVRO (lançado recentemente pela Aleph), uma adaptação pra HQs (capa acima da Deagostini), vídeo-games, e outros produtos interligados!

Confira abaixo:


Por ter assistido a saga de Star Wars quando foi lançada originalmente nos cinemas, tenho um vínculo singular com a história e os personagens que gerações posteriores não tiveram. É fato que, por mais que fãs tenham nascido com os filmes assistidos nos canais de TV aberta e posteriormente através de vídeos ou DVDs, ou ainda relançados nos cinemas com cenas alteradas, não há o tipo de ligação emocional como a de quem descobriu os mistérios da força no tempo em que não haviam blockbusters a cada semana ou tanta informação acerca dos filmes enquanto eles ainda não estão prontos. Na época, para os ávidos consumidores, houve muito material relacionado à estreia de"Guerra nas Estrelas". Lembro de ter começado a colecionar o álbum de figurinhas no mesmo dia que saí do cinema (faltei apenas duas para completar), pena que em alguma mudança ele acabou por se perder nas areais do tempo. Comprei também a adaptação do filme lançada pela BLOCH, uma edição em quadrinhos maior que as revistas que existiam na época e mesmo as cores berrantes não me incomodavam tanto. Teve um livro com a história escrita pelo próprio George Lucas (no nome ao menos, já que era na verdade trabalho do Alan Dean Foster como “ghost writer”), um encadernado com fotos do filme, bonecos de papel de C3PO e R2 em uma edição da revista: “Destaque e Brinque” da Abril. Numa época em que material ligado à cinema não era muito encontrado no Brasil, esse foi um indicativo do grande sucesso do filme.

Mas se tem um ponto negativo no fato de ter estado presente ao lançamento original, foi o hiato após o frisson do primeiro filme ter passado, lembro que havia ecos do sucesso, como: "Os Trapalhões na Guerra dos Planetas”, e uma ou outra menção em mídias diversas (não vou mencionar o malfadado especial de natal para a TV que passou no SBT), mas nada concreto até o “Império Contra Ataca”. Nos EUA haviam alguns livros que começaram a pintar o futuro “universo expandido”, bonecos dos personagens, a série de quadrinhos da Marvel e até tiras de jornal, mas nada disso foi traduzido para português na época. Não haviam sequer muitas notícias sobre a saga, o que soa estranho nos dias de hoje com a internet e divulgação em massa. E quando se percebe que no início do segundo filme tinha a chamada de “Episódio V”, (tal fato passou meio desapercebido no anterior), isso gerava muitos questionamentos: afinal onde estavam os Ep. I, II e II? Do que se tratava a história? A Indústria do boato atestava inclusive que existia um episódio "zero" e que era nele que se mostrava a origem de Darth Vader. Outra grande onda de lançamentos relativos a Luke & CIA somente veio com o terceiro filme da saga. A emoção de um lançamento de Star Wars no cinema, e ainda por cima um que fechava pontas soltas dos anteriores, gerou novamente um álbum de figurinhas (essa ainda tenho), revistas para colorir, livros com a história (dessa vez sem o Lucas fingir ter escrito), máscaras de carnaval, bonecos feitos de chumbo que pouco se pareciam com os oficiais, mas tudo era válido. E depois... nada.

A Editora Abril lançou algumas histórias da Marvel no mix da revista do "Hulk" muitos anos depois, mas só isso. E essa é a grande desvantagem de ter se tornado um fã de Star Wars nesse período: não havia absolutamente NADA de novo. Os boatos sobre novos filmes de Lucas eram somente isso: boatos. Somente com reprises na TV é que se gerava alguma conversa sobre o assunto, que eram menores a cada nova reprise. E a franquia realmente parecia ter cumprido seu ciclo. Somente em meados dos anos 90 é que Star Wars voltou a ter importância. O início do universo expandido com novos lançamentos em livros e quadrinhos da Dark Horse. Podíamos ver novamente: Luke, Leia, Solo, Chewbacca e Vader. Não eram lançamentos de cinema com toda a carga emocional (e comercial) que isso gera, mas eram novidades que mostravam que a franquia ainda tinha Força (com o perdão do trocadilho). Algumas delas vieram em versões brasileiras, como a trilogia de Timothy Zahn: “Herdeiro do Império” pela Nova Cultural e a HQ: "Império do Mal" (Dark Empire) lançada pela Abril. 

Em uma época em que comprar quadrinhos importados deixou de ser uma impossibilidade e trazer livros pela Amazon para o Brasil era viável (a paridade entre o dólar e o real também eram de grande ajuda) cada novo lançamento, série, saga, livro, eram acompanhados por fãs do mundo inteiro, mas nenhum deles era um filme, com a grandiosidade e possibilidades comerciais. Na verdade, a empresa de Lucas também percebeu esse fato e na falta de lançamentos cinematográficos veio: “Sombras do Império”, saga que teve agora sua versão em quadrinhos publicada no Vol. 39 da Coleção Degostini (em uma boa jogada editorial que fará a versão brasileira ser mais completa que as originais lançadas na Espanha e Portugal).

“Sombras” foi algo sem precedentes na indústria de entretenimento... uma história que se posicionava entre “Império” e “Retorno” e se propunha a ligar os acontecimentos dos dois filmes e mostrar várias coisas que ficaram apenas subentendidas. Como Leia criou a identidade que ela usa em “retorno”? Como Fett levou Solo para receber sua recompensa? Como Luke amadureceu do inseguro aprendiz (a expressão "padawan" veio depois) no  jedi que arquitetou um plano mestre para libertar Solo das mãos do insidioso Jabba? Logo nas cenas inicias dele em “Retorno” ao adentrar o castelo do criminoso ele já tem uma atitude bastante segura. Era interessante mostrar essa transformação, mas não se tratava de se fazer isso apenas em uma nova série de quadrinhos ou num livro, e sim num grande projeto para explorar todas as possibilidades comerciais de um filme de verdade... SEM um filme de verdade. 

O plot principal era contado no livro, escrito habilmente por Steve Perry, onde se viam os personagens principais e secundários com um plano de fundo de uma disputa política entre Vader e o líder de uma facção criminosa: Príncipe Xizor, pela posição de confiança ao lado do Imperador, enquanto o caçador de recompensas Boba Fett enfrenta dificuldades para levar seu prisioneiro Han Solo para as mãos de Jabba (afinal, todos os mercenários da galáxia querem colocar as mãos na recompensa oferecida) os heróis também procuram por seu amigo e começam a perceber a existência da construção de uma nova Estrela da Morte.


Os personagens clássicos ganham a adição de novos: o príncipe Xizor e sua organização Sol Negro, sua andróide Guri, protagonista da máxima de que uma imitação de vida pode conter a vida que imita, e talvez o grande ponto fraco da trama: Dash Rendar, um mercenário, falastrão com uma nave e personalidade copiadas de Han Solo. Sua presença na história é exatamente para substituir o personagem de Harrison Ford e apenas demonstra ser desnecessário. Mas, apesar da presença de Rendar, a história é bem amarrada e interessante. Um novo capítulo da saga que gera dois questionamentos. O livro é auto contido? Sim! Mostra TODOS os acontecimentos da trama? Não! E aí está a sacada de “Sombras”: cada elemento é independente e mostra a trama de forma compreensível, mas para o leitor realmente conhecer todas as nuances e elementos da história ele teria que acompanhar o máximo de lançamentos relacionados. O plot principal estava em todos os produtos, mas o foco mudava em cada narrativa.


Enquanto o livro mostrava com mais detalhes a disputa entre Vader e Xizor, inclusive com a preocupação do Lorde Negro em preservar a vida de seu filho para usá-lo contra o Imperador, a HQ centrava com mais detalhes a trama de Fett e o destino dos caçadores que foram vistos em uma cena de “Império Contra Ataca”, bem como a saga de Jix, um assistente de Vader infiltrado na gangue de Jabba. Um livro pop-up (onde as figuras saltam das páginas em dobraduras de papel), era centrado somente no duelo entre Fett e IG-88 (um caçador de recompensas robótico). Paralelamente, partes da história vistas pela ótica de Rendar são mostradas no jogo para PC, quando se detalha a ajuda dele aos rebeldes para libertar Leia das garras de Xizor e depois ao proteger Luke de uma tentativa de assassinato em Tatooine onde este constrói seu novo sabre de luz verde, para substituir o azul que perdeu em “Império” enquanto espera a chegada de Fett ao palácio de Jabba para iniciar o resgate de seu amigo.

Outros lançamentos também aumentavam a imersão na história: uma série de cards com pinturas dos irmãos Hildebrandt mostravam detalhes da história de forma magistral com passagens do livro, HQ e jogo. Bonecos foram lançados com os personagens novos e versões dos clássicos. Naves como a Slave I de Fett e o Outrunner de Dash Rendar também eram achadas em lojas de brinquedos. Uma mini HQ lançada pela Nintendo para contextualizar o jogo. Um kit de montar da Revell com a nave de Xizor, a Virago, e... um CD com a trilha sonora. Sim, na época John Williams foi sondado para fazer a trilha sonora da trama do filme que não existe, mas como estava com conflitos em sua agenda passou a tarefa para Joel McNeely, que fez um trabalho soberbo. Até mesmo um trailer foi idealizado para a saga, mas retirado do ar por parecer muito com um novo lançamento em cinemas e Lucas não quis testar tanto assim o mercado com um filme que não existiu na prática. Meio difícil de se achar hoje em dia com uma imagem decente, mas que pode ser conferido neste: "LINK"!


Em resumo, a coisa funcionava da seguinte forma: a aventura era mostrada em todos os produtos, mas se o fã quisesse se aprofundar nas motivações de Vader e Xizor o livro era a melhor opção. Se o interesse fosse em mais detalhes do que ocorreu com Boba Fett ou Jix deveria procurar a HQ. Se quisesse a visão mais aventuresca do duelo de Fett e IG-88 o livro pop-up era a solução. Se o mais interessante fosse as ações de Dash Rendar teria que zerar o jogo (maldita fase contra Boba Fett... Droga... Droga...). Para viajar nas emoções dos personagens se procurava a trilha sonora. E assim por diante. Mas se você fosse um nerd com toque de verme e queria TODOS os menores detalhes, acredite que falo por experiência própria, seu caminho seria loooooongo, caro Padawan. Independente de não ter sido o melhor produto do universo expandido: foi um sucesso. Fãs comentavam cada um dos lançamentos e comparavam experiências de cada faceta da trama como se estivessem conversando sobre um novo filme de Star Wars. George Lucas chegou a dizer que não só aprovou o resultado como se pudesse voltar à 1980, faria um filme com a história. 

O projeto ainda gerou frutos como uma continuação em HQ da andróide Guri e outra com detalhes sobre Jix. Em uma versão de rádio de “O Retorno de Jedi”, foram enxertadas várias passagens que faziam menção aos acontecimentos de “Sombras”. Dash aparece em outros jogos criados posteriormente pela Lucas Arts e na versão alterada de “Uma Nova Esperança”, nas cenas extras criadas para a nova edição do filme podemos ver a nave de Rendar em Tatooine, bem como Xizor na plateia da corrida dos pods em Episódio I. Curiosamente, o que poderia ser o mais interessante: uma versão animada, não foi lançada. Na época, a franquia não investia em desenhos animados. A Aleph já relançou o LIVRO com uma lindíssima capa exclusiva para a edição brasileira (acima). O Pop-Up também saiu por aqui com o nome: “Batalha dos Caçadores de Recompensa”. 

Na época, um amigo meu tinha viajado para os EUA e trouxe um CD de “Sombras”, lembro que baixar músicas pela internet não era comum e quando ele me mostrou o CD atiçou meu lado Nerd. - HÁ! Olha o que encontrei em uma loja de CDS... Ia trazer para você também, mas eles só tinham UM em estoque, e... ele é meu, mas trouxe essa coletânea do Williams para você, sei que não é a mesma coisa. -Poxa, que legal, já ouviu? - Não... deixei para abrir a embalagem aqui no Brasil para preservar o CD. Ao abrir o plástico em torno da caixa do CD, com direito a paradinha ao tirar a fita do lacre da embalagem, a caixa é aberta e... NADA. Por algum defeito de fabricação o CD não estava dentro do estojo... eu tentei não rir da situação... juro... mas tudo que pude dizer foi: - Se você quiser ir beber uma água eu espero você sair antes de começar a dar risada, tá? Anos depois eu consegui minha cópia do CD  (e meu amigo também) e Lucas lançou suas versões alteradas da trilogia clássica nos cinemas, em seguida, com toda pompa e circunstância, veio "Episódio I" com seu álbum de figurinhas, bonecos e outras tralhas. Lucas nos entregou uma história que começa com um embargo comercial à um planeta cujo um dos habitantes se chamava Jar-Jar Binks... E minha geração percebeu que a falta de lançamentos de novos filmes de Star Wars nos cinemas... não tinha sido uma coisa tão ruim assim!

Até+



PS: O "Submundo" agradece a colaboração do Cesar Leal nesta matéria especial de "Sombras do Império" (A HQ da Deagostini já está nas bancas e o LIVRO da Alpeh nas livrarias - Recomendo ambos)! E a seguir aqui no blog: A volta do "TOP 100" (Partes 3 e 4) e uma matéria sobre a "CRISE nas INFINITAS TERRAS"!!!
sub.png (599×495)
Créditos;) Leo Radd http://submundo-hq.blogspot.com.br/2015/11/star-wars-sombras-do-imperio-o-filme.html

Nenhum comentário: