A notícia avançada pelo Central Comics há pouco mais de uma semana, não foi uma grande surpresa para a maioria. Os sinais avolumavam-se e o desfecho - a falência - adivinhava-se.
Surpreendentemente - ou talvez não, atendendo ao histórico nacional - não foi a falta de vendas de banda desenhada que provocou o fim (anunciado) da Goody.
Para o registo ficam - se não errei as contas - 423 edições em seis anos.
Traço uma breve história: a 5 de Dezembro de 2012, a Goody lançava nas bancas a Comix #1, fazendo a BD Disney regressar a bancas, quiosques e outros pontos de venda, após uma ausência de seis anos. Seria o título mais duradouro da editora, com 200 edições. E surgia, seguido de uma atitude única na edição de BD em Portiugal: a reunião com divulgadores e especialistas para auscultar expectativas e receber sugestões.
Outros títulos Disney foram-se sucedendo, com alguns percalços e duração variável, que, pela boa distribuição, tiveram igualmente o condão de tornar a BD - a da Goody e outras - de novo visível nesses locais de venda. As revistas nais recentes - Tio Patinhas, Donald e Mickey, ficaram-se pela dúzia de edições ou nem isso.
A aventura Disney da Goody, da qual quero destacar o volume único dedicado a Don Rosa, foi a mais duradoura - com alguns hiatos cumpriu os tais 6 anos já referidos - totalizando 347 edições e mais de 60 mil páginas, maioritariamente preenchidas com histórias italianas.
Há cerca de ano e meio, após longas negociações, a Goody cumpria outro sonho antigo: proporcionar igualmente o regresso da BD Marvel às bancas, em publicações regulares. Entre Agosto de 2017 e Setembro último, foram 73 edições (das quais tive oportunidade de traduzir quase metade: 30) - e mais de 9 mil pranchas.
Tal como na Disney, os títulos, com conteúdos de assinalável actualidade, multiplicaram-se, entre revistas mensais e mini-séries e tudo parecia correr muito bem.
Os primeiros sinais (externos) de problemas surgiram em meados deste ano, com o atraso ou adiamento de algumas edições, mas quem trabalhava na Goody ou para a Goody (tradutores, legendadores...) já se tinha apercebido antes que havia dificuldades.
Nos meses recentes, as sucessivas campanhas com descontos, a aposta em assinaturas, o lançamento em banca de vários títulos quase em simultâneo, espelhava uma necessidade gritante de dinheiro cujo retorno não foi suficiente para evitar o que se revelou inevitável: a falência da editora.
Sabe-se agora, que a sua reformulação sensivelmente a meio do percurso e as dívidas então herdadas, a par da dívida - fala-se em mais de 200 mil euros... - deixada pela falência da Distribuidora Urbanos já este ano, foram as causadoras do fracasso, que não está ligado a vendas insuficientes quer da Disney, quer da Marvel, que em ambos os casos se apresentavam como negócios suficientemente rentáveis.
Curiosamente, é esse o historial da BD nacional, com sucessivos desaparecimentos ou desinvestimento - Meribérica, Witloof, ASA, Vitamina BD... - a terem origem em aspectos exteriores ao sucesso dos títulos editados.
Se os principais penalizados são aqueles que não receberam o seu dinheiro - salários, pagamento de trabalhos efectuados, assinaturas não correspondidas - há dois outros aspectos penalizadores a considerar.
O primeiro, é a 'má fama' que novo falhanço editorial Marvel - depois da patética 'aventura' da Panini - traz às edições nacionais dos super-heróis da Casa das Ideias.
O segundo, é a certeza que mais cedo ou mais tarde - falamos possivelmente de meses - vão aparecer ao preço da chuva as edições que ficaram em stock e até, apesar de não haver confirmação, aquelas que tenham sido impressas e não distribuídas por falta de pagamento às gráficas...
Dois factores importantes, que constituem um pesado ónus a encarar por quem pensar em lançar revistas Marvel em português nos próximos tempos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário