segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Submundo HQ N°267 - A Nova "Era Premium" do Mercado Nacional de HQs: Luxo & Desleixo...

O leitor brasileiro tem acompanhado diversas mudanças no mercado nacional de uns tempos pra cá...(28/06/2019) Os gibis ficaram mais elitizados (o formato luxuoso predomina), as mensais ficaram mais caras (e com capa-cartão), a distribuição nunca esteve mais caótica e restrita, os erros de revisão continuam à todo vapor, coleções são canceladas sem aviso, os editores se escondem, os canais oficiais ficam desatualizados, o leitor fica sem respostas!

Afinal, o que está acontecendo? De forma um mercado até pouco tempo tido como "em expansão" e com farto material pra oferecer ao leitor... Se encontra agora em uma situação de CRISE, desleixo editorial, e incertezas pra todos os lados? (A credibilidade das editoras tá indo pro ralo, e nada parece estar sendo feito pra contornar os problemas)!

Confira abaixo (Imagem genial - acima - criada e cedida pelo VAM):
A imagem que abre esta postagem (o "Submundo" agradece a colaboração e boa ideia artística do VAM)... Mostra uma fusão entre a famigerada "Era Premium" (da Abril) com as novas revistas mensais "gourmetizadas" da Panini (no caso, entre o "Homem-Aranha" nº 1 da linha Premium com o NOVO título aracnídeo), numa espécie de déjà vu de uma situação já vivida pelos leitores brasileiros na virada do século (anos 2000): A sensação de estar fora do radar de público-alvo das editoras. A linha Premium da Abril (pra quem não lembra) elitizou as mensais da época (Marvel e DC) acabando com o formatinho e padronizando todas as revistas regulares em encadernados de 10 reais com 164 pág cada. Em 2002, a Panini reestreava a linha Marvel no Brasil (nessas alturas, a Abril estava apenas com a DC) oferecendo formatos mais econômicos e mirando no público de menor ou mediano poder aquisitivo (com gibis que custavam a partir R$ 2,50). Não tardou pra Panini logo abraçar a DC (no ano seguinte) e tirar todos os super-heróis da Abril!

Voltemos para o presente... A Panini, HOJE, praticamente eliminou os formatos mais econômicos que ainda cabiam no bolso do leitor de baixa renda. As revistas de linha (Marvel e DC) custam atualmente: R$ 9,90 (com apenas 48 pág), graças à adoção da capa-cartão (que encarece o produto). O cúmulo desse sistema, é a máxi-série da DC (em 12 partes): "O Relógio do Juízo Final", que custa os mesmos R$ 9,90 de uma mensal comum, só que com menos pág (32 por edição). Em contrapartida, a Panini andou superfaturando alguns encadernados de capa-cartão, que chegaram a beirar a casa dos R$ 40 ("A Morte de Thor 1-2""Nomes", etc) e reajustou os TIJOLÕES de luxo (capa-dura), quebrando a barreira dos R$ 200 em alguns casos ("Vingadores Vs. X-Men""O Dia Mais Claro") e mantendo uma média geral entre 80 a 120 ("Batman - Morte em Família""A Saga de Thanos", etc)!

As demais editoras também seguem essa cartilha de gibis "gourmetizados" (como alguns leitores apelidaram)... A Mythos até que manteve os seus preços médios (que nunca foram dos mais baratos): Mas a Devir, Salvat, e Eaglemoss chutaram o balde com os reajustes. A Devir já cobra R$ 60 num encadernado formatéco paraguayo (The Boys), a Salvat até QUEBROU e abandonou todas as suas coleções deixando as lombadas inacabadas (o "Tex Gold" já vai pro saco no mês que vem), enquanto a Eaglemoss já quase DOBROU o preço de capa de sua "Coleção DC" (hoje custando R$ 70) e as miniaturas "normais" já passam de R$ 92 (quase o TRIPLO desde que começaram). A P&N sempre focou no público A e B (nenhuma novidade aí), mas a novata New Order nem se importou de relançar o "SPAWN" no Brasil custando (singelos) R$ 70 - num encadernado de 160 pág!
Os motivos pra todo esse cenário e seletividade de público (as editoras querem aquele leitor que não reclama de preço, que faz pacotões na Amazon, e que vai todo ano pra CCXP - cada vez mais lotada e faturando milhões) tem várias origens: Uma delas é o TUFO que as editoras tomaram das grandes livrarias (Saraiva, Cultura, e Fnac): Uma dívida que até pouco tempo girava em torno de 180 milhões (!) e - é claro - que essa conta vai ser repassada pro leitor de alguma forma (mesmo que role um ACORDÃO entre as editoras e livrarias). Fora isso, a crise no setor de distribuição (após a queda da Abril) ferrou com o esquema no país todo. A Salvat não segurou a onda após passar MESES sem conseguir distribuir seus gibis nas bancas, e tendo um site de merda (que manda gibis detonados pra quem compra on-line) SEM promoções atrativas, sucumbiu na dependência das distribuidoras. Ponto pra Eaglemoss, que soube manter um site produtivo e cheio de ofertas semanais (lançando até coleções exclusivas no site, tipo: "DC - Sagas Definitivas")!

As gráficas tem um custo de produção alto, mas NÃO são o principal motivo desses aumentos (eu trabalhei com 3 gráficas diferentes nos últimos 2 anos e os valores na impressão de livros diminuem - consideravelmente - conforme a tiragem aumenta). Se bem que a tiragem das edições da Panini, por exemplo, reduziram bastante. Isso pode ser observado na baixa quantidade de exemplares de cada encadernado nas bancas (as que antes receberiam uns 10 a 15 exemplares de "Batman - Veneno", agora recebem 2 exemplares no máximo: o que dificultou pra muitos leitores encontrarem a edição pelo país afora. Se pelo menos essa elitização viesse acompanhada de um controle de qualidade impecável, muita coisa poderia ser perdoada (ou amenizada), mas NÃO é o caso: Pois os ERROS de REVISÃO se proliferam cada vez mais, resultando até mesmo no SUMIÇO dos editores da Panini (que hoje se escondem do público: cada vez mais raivoso e indignado nas redes sociais, rs)!

Muito se especulou quanto aos tais ERROS de REVISÃO, e durante um tempo eu cheguei a acreditar até em SABOTAGEM interna na Panini (o que não seria a 1º vez que aconteceria, pra tentarem derrubar alguém importante por lá). Só que essa teoria da conspiração cai por terra quando vemos que os tais erros acontecem em praticamente TODAS as editoras do mercado (o grupo do face: "Todo Dia um Erro Diferente nos Quadrinhos", já cobriu e publicou erros de todas as editoras - NENHUMA escapou, nem mesmo as novatas: Culturama e Lorentz). Ao que tudo indica, isso acontece por puro desleixo E incompetência dos "profissionais" envolvidos (querem economizar justo no REVISOR: dá nisso)! Em suma, todos esses fatores já estão contribuindo pro afastamento de muitos leitores (que migram pra outros interesses e hobbys) e o futuro dos quadrinhos no Brasil parece algo cada vez mais sombrio!
Até+
PS: Ilustrei esta matéria com capas de lançamentos: "TEX 595" (teve uma tiragem sob demanda em formato italiano e CORES); "Sr. Milagre 2"; "Ex-Machina" (capa-dura); "Escalpo 4"; "Superman - Realidades Paralelas"; "Surfista 2" (Mike Allred); "Motóca Cósmico" (tosqueira); e "Batman Noir" (é o "DK1" em P&B)!    
Submundo.jpg (611 × 452)

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