A revista 'Mônica' está comemorando a marca histórica de 50 anos de gibis ininterruptos no Brasil. Nessa postagem mostro como foi a trajetória e curiosidades da revista da Mônica ao longo dos seus 50 anos de gibis e também como foi a revista "Nº 1" da Editora Abril.
O Mauricio de Sousa teve uma experiência com o gibi do Bidu pela Editora Continental entre 1960 e 1961, só que por fata de tempo de criar histórias e poucas vendagens acabou o título sendo cancelado com apenas 8 edições. Durante os anos 1960, ele passou a criar novos personagens e divulgá-los em tiras e tabloides de jornais e com os mesmos já conhecidos, inclusive, já terem feito até propagandas de TV, Mauricio resolve arriscar de novo em revistas em quadrinhos em 1970. Resolve criar a Revista 'Mônica', personagem inspirada na sua filha em 1963 e já bem popular com o grande público. Assim, em maio de 1970 chegava às bancas a 'Mônica Nº 1' pela Editora Abril e todo em cores (era uma novidade, pois os gibis até os anos 1960 eram em preto e branco). A primeira propaganda da revista da Mônica anunciada em outros gibis da Editora Abril foi essa.
Primeira propaganda do gibi da Mônica que circulava nos outros gibis da Editora Abril (1970) |
A revista sempre foi mensal e nesses 50 anos passou por 3 editoras diferentes: Abril, Globo e Panini, totalizando 607 edições até nesse mês de maio de 2020, somando as 3 editoras. A cada troca de editora, a numeração foi reiniciada. Na Editora Abril foi até ao "Nº 200" em dezembro de 1986. A partir de janeiro de 1987 se mudaram para a Editora Globo, durando 246 edições. Curioso foi que entre os anos 1997 a 2002, a revista teve 13 edições por ano, ao invés de 12, e, assim, acabou tendo 246 edições ao invés de 240, pois a revista ficou exatos 20 anos na Globo. Desde janeiro de 2007 está na Editora Panini, sendo que quando chegou a edição "Nº 100", em abril de 2015, resolveram iniciar numeração novamente na mesma editora, algo inédito até então, porque a MSP acha que cada geração de leitores deve ter uma edição "Nº 1" na sua coleção.
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As capas sempre prevaleceram piadinhas com as características dos personagens, e de vez em quando algumas com referência à história de abertura quando elas eram importantes. Quando mudaram para a Editora Panini, todas as capas passaram fazer exclusivamente alusão á história de abertura, a partir da edição "Nº 3", de março de 2007, deixando de lado as piadinhas e passaram a ter efeitos de sombra e luz para modernizar.
O logotipo nunca mudou messes 50 anos, porém a partir da edição "Nº 200" de fevereiro de 2003 da Globo, os logotipos sofreram adaptação, ajustando o rosto da personagem ao lado do logotipo como uma forma de melhor identificação dos personagens nas bancas. Na 1ª série da Panini, mudaram os desenhos colocando também braços das personagens e na 2ª série a partir de 2015 o logotipo voltou a atingir a largura inteira dos gibis e colocam uma imagem da personagem de corpo inteiro já existente de revistas anteriores e em miniatura.
Propaganda do gibi da Mônica que circulava nos outros gibis da Editora Abril (1972) |
Em relação a formato da revista, até a edição "Nº 117" da Editora Abril, de janeiro de 1980, tinha um formato maior na altura, medindo 13,5 X 20,5 cm, formato canoa e 68 páginas. A partir da edição "Nº 118", de fevereiro de 1980, o formato passou a medir 13,5 x 19 cm, seguindo a padronização de todos os gibis em circulação no Brasil, tanto os da Editora Abril quanto de outras editoras naquele mês. A partir da edição 'Nº 149', de setembro de 1982, passou a ter 84 páginas e formato lombada medindo 13,5 X 19 cm e continua assim até hoje. A edição "Nº 120", de 1980, teve lombada também, mas foi por causa que teve junto o relançamento de Mônica "Nº 1" em comemoração aos 10 anos da revista até então.
Capas "Nº 1": Abril (1970), Globo (1987), Panini (2007), Panini (2015) |
Quando passou a ter 84 páginas na Editora Abril, a revista teve uma série de seções que ajudaram a incrementar o gibi e uma forma de não ter maior número de páginas com histórias apesar de mais páginas nos gibis. Além de passatempos e a seção de cartas "Vamos bater m papo?", que tinha desde 1975, a partir da edição "Nº 149", passou a ter as seções "Horóscopo da Mônica", contos "Mundo encantado dos animais" e "É fácil desenhar" que eram bem criativos e melhoraram ainda mais os gibis dos anos 1980. Quando foram para a Globo, essas seções foram extintas, ficando só as seções de cartas, renomeadas para "Mônica dá o recado", aí sim fazendo jus ao número maior de páginas com histórias em cada gibi e segue assim até hoje. Na Editora Abril também foi marcada por brindes, como cartões, agendas, marcadores de livro, papéis de cartas, entre outros, que incrementavam mais as revista, Depois na Globo e Panini isso foram raros de acontecer.
Capas Nº 100: Abril (1978), Globo (1995), Panini (2015); Nº 200: Abril (1986), Globo (2003) |
A revista também muitas vezes foi porta de entrada para lançamentos de personagens novos, algumas vezes com chamadas na capa ou apenas estreando mesmo sem alarde. A MSP fazia questão de estrearem nos gibis da Mônica. Alguns deles foram Nimbus, Do Contra (MN # 92, de 1994), Marina (MN #97, de 1995), Luca (MN # 221, de 2004), Dorinha (MN # 222, de 2004), Doutor Spam (MN # 233, de 2005), entre outros. Curiosidade que a Tia Nena fizeram questão de estrearem no gibi da 'Mônica Nº 26', de 1989, ao invés de gibi da Magali, para ver o potencial da revista da Mônica.
Os traços nas primeiras edições eram bem primários, desenhados só pelo Mauricio de Sousa, com personagens com bochechas pontiagudas e ao longo dos anos o público pôde acompanhar todas as evoluções de traços bem gradual, a ponto dos leitores nem perceberem que estavam sendo mudados os desenhos e já estavam bem diferentes no final dos anos 1970 e foram mudando ainda mais gradativo até chegar a fase consagrada dos anos 1980 e 1990. Apesar de manterem a base dos traços, ultimamente já encontra diferenças, deixando tudo digital e bem artificial, com desenhos sem vida e parecendo carimbo.
Algumas capas da Editora Abril |
Em relação a histórias, a revista sempre englobou histórias de todos os seus núcleos de personagens criados até então, não são só histórias da Mônica, mas tendo mais destaque com as histórias dela. Histórias da Mônica foram focadas em mostrar absurdos da sua super força, saber qual o segredo dessa força, planos infalíveis do Cebolinha e outros meninos para derrotá-la e se tornarem os donos da rua, piadas sobre ela ser gorda, dentuça e baixinha, já que os meninos viviam a xingando assim, além de aventuras de contos de fadas, enfrentando vilões, cientistas malucos, monstros, extraterrestres, típicos em gibis infantis. E tudo intercalado com histórias de outros personagens, tanto histórias com personagens do seu núcleo como Cebolinha, Cascão, Titi, Jeremias, etc, assim como secundários como Turma da Mata, Tina, Penadinho, Chico Bento, Astronauta, entre outros.
Capas de edições especiais da Editora Abril |
Nos primeiros números, a gente via uma linguagem bem culta nas histórias, empregos corretos de próclises, ênclises, etc, palavras mais difíceis, sempre quando precisavam colocar um termo mais informal, colocavam palavras entre aspas, e ao longo dos anos deixaram uma linguagem mais informal para se tornar mais agradável a leitura. Fora que nesses 50 anos, ainda teve duas reformas ortográficas, as de 1971 e de 2009, mudando a grafias da palavras como "êle", "êste","esfôrco", etc (reforma 1971) e outras como "para", "feiura", "autorretrato", etc (reforma 2009).
Algumas capas da Editora Globo |
Também acompanhamos todas as evoluções de gírias em cada década, de comportamentos sociais, de culturas no cenário musical, artístico, brinquedos, moda, até evoluções das moedas e preços nas capas são interessantes observar, até chegar a inclusão digital nos dias de hoje. É que a MSP sempre teve preocupação em adaptar as histórias ao que acontecia na atualidade. Para ter uma ideia, até roupas e cabelos de personagens secundários e figurantes eram adaptados a cada década, mas os personagens principais seguiram com o seu estilo de roupa como foram criados já que eram as suas marcas registradas.
O ponto negativo é que as personalidades das personagens também foram mudadas durante a trajetória, em especial a Mônica, a gente via que era bem esquentada, dava surra nos outros sempre que provocavam, seja quem quer que fosse, e agora está bem mais calma, quase não aparece ela batendo nem nos meninos, no máximo terminando histórias só correndo atrás deles sem mostrar sendo surrados, isso quando eles a provocam. Tudo para atender ao politicamente correto que predomina mundialmente nos últimos anos.
Capas de edições especiais da Panini |
Sobre a edição "Nº 1", foram 6 histórias no total, ainda com grafia antiga antes da reforma ortográfica de 1971, com Cebolinha trocando as letras aparecendo entre aspas e quando precisavam colocar uma expressão informal, contra a norma culta da Língua Portuguesa, colocavam entre aspas também. E bem comum também ver personagens falando com boca fechada. A capa com a Mônica levantando o carrinho do Cebolinha para uma tartaruga passar. Depois chegaram a fazer releituras dessa capa em edições da Panini.
Abre com a clássica "Mônica é daltônica?" em que o os meninos criam um plano infalível inventando que estão com roupas de cores diferentes para a Mônica pensar que é daltônica e não possa exercer o cargo de dona da rua. Para não piorar a visão, Mônica teria que não fazer esforço e nem expressar sentimentos. No final, acaba ela descobrindo que era plano ao ouvir o Cebolinha dizendo que a camisa dele era verde, dá surra em todos e faz com que eles provem que ela está enxergando tudo com as cores normais.
Vale destacar que quem bolava os planos nos primórdios era o Zé Luís, tinham até um clubinho para se reunirem e mostrava dando soco de forma explícita, sem onomatopeia. Com o passar dos anos preferiram colocar onomatopeia "POF" no momento em que ela batia nos meninos e depois apareciam surrados. Presença também do Manezinho, que era bem frequente, depois se tornou personagem esquecido muitos anos e hoje aparece de vez em quando.
Trecho da HQ "Mônica é daltônica?" |
Em "O cachorro falante", com 8 páginas, um mágico tenta fazer o Bidu falar, mas ao Franjinha dar uma pedrada na cabeça no mágico bem na hora que ele estava fazendo a mágica, faz cm que ele troque de lugar com o Bidu, e, assim, o mágico fica no corpo do Bidu e o Bidu fica no corpo do mágico, dando muita confusão, com todos pensando que era o Bidu falando. Essa história teve roteiro original do gibi do Bidu N º 1 da Editora Continental, 1960, e aí foi redesenhada e colorida para sair nesse gibi da Mônica. Presnça também do Manezinho na história.
Trecho da HQ "O cachorro falante" |
Em "O amor da Rita", com 7 páginas, conhecemos a Rita Najura, formiga que era apaixonada pelo elefante Jotalhão, mas ele não dava nenhuma bola para ela. Enquanto isso, o formiga Saulvo era apaixonado pela Rita e ela nem dava confiança para ele. Saulvo tenta falar com Jotalhão para não namorar a Rita, mas Jotalhão fala que nunca teve nada com ela, impossível elefante namorar uma formiga e não é o tipo dele. Rita ouve tudo, fica decepcionada ao ouvir aquilo do Jotalhão e aceita Saulvo namorá-la, mas na condição de ele se fantasiar como elefante verde para se sentir mais tranquila. História mais de apresentação do personagens desse núcleo, com o tempo a Rita Najura foi investindo em planos para tentar conquistar o Jotalhão, sempre em vão, e o Saulvo voltou a aparecer esporadicamente outras vezes, hoje é considerado um personagem esquecido.
Trecho da HQ "O amor da Rita" |
Em "O Soro da invisibiidade", de 11 páginas, Cebolinha toma uma fórmula de um cientista que encontrou no chão e acaba ficando invisível. Cascão se assusta com a situação e depois o Cebolinha volta ao normal aos poucos, primeiro só a cabeça, dando muita confusão para ele e no final volta ao normal por completo, só que pelado, constrangendo Mônica e Magali. Essa história foi uma série de tirinhas que juntas formavam um história, aí a cada metade de página formava uma piada diferente. Destaque de Xaveco ter nome escrito como "Chaveco", o barbeiro que aparece é o Seu Antônio, pai do Mauricio de Sousa, e essa história virou desenho animado anos depois.
Trecho da HQ "O soro da invisibilidade" |
Na história do Raposão, "A corrida", de 7 páginas, mostra uma paródia da fábula da corrida da Lebre e a Tartaruga, sendo que o Coelho Caolho era a lebre, Tarugo era a tartaruga e e Raposão, o juiz da corrida. Eles disputam corrida e acaba o Tarugo ganhando no final, pois Raposão interpreta que quando Coelho Caolho declarou que ganhava corrida quem chegasse mais cedo, o Coelho Caolho chegou as 6 da tarde e o Tarugo às 6 da manhã. Participação de personagens Tuta Tatu e Mico Lino, hoje ambos no limbo dos personagens esquecidos.
Trecho da HQ "A corrida" |
Termina com a clássica "Cascão quer sabão", de 12 páginas, em que o roteiro tem 2 fases interligadas. As 3 primeiras páginas da história é a Mônica implicando com o mau cheiro do Cascão e fazendo de tudo para que ele tome banho, só que em vão, com direito até Cascão bater nela para não tomar banho. Depois, o Cascão é desafiado por um patrocinador para fazer propaganda de sabonete e teria que tomar banho 90 vezes com a marca de sabonete. Cascão só aceita porque usaria um creme impermeabilizante do Franjinha que não deixava a água passar no corpo, mas ainda surgia medo no Cascão de ver a água o atingindo. Mesmo a Mônica dando vários socos no Cascão para ele não vê a água caindo do chuveiro, ele gasta o sabonete mesmo é fazendo bolinhas de sabão escondido enquanto fingia tomar banho com o chuveiro ligado.
As 3 primeiras páginas da Mônica implicando com o mau cheiro do Cascão são do estilo de tirinhas adaptadas em uma história, com metade da página formando uma piada. Na fase do Cascão ter que tomar banho com sabonete, o patrocinador seria o Silvio Santos e foi a primeira vez que apareceu o Franjinha como cientista e criando invenções em seu laboratório, sendo que essa ideia era usada raramente e ficou mais frequente a partir de 1973. Davam preferência de histórias do Franjinha com Bidu ou interagindo normal com a turma.
Trecho da HQ "Cascão quer sabão" |
Um gibi histórico com história muito boas. Dá pra ver que preferiram histórias mais longas nessa edição e deram preferência a uma mistura de personagens como Turma da Mata, Bidu, Cebolinha e Cascão. História da Mônica mesmo foi mais a de abertura e também com participação maior na última, já que esta prevalece mais como história do Cascão. Pelo visto foi para o púbico conhecer melhor os diferentes universos do Mauricio. Atualmente essa edição "Nº 1" é muito rara e colecionadores pagam uma fortuna pela Nº 1 original. Para se ter uma ideia na "Comic Con" de 2019, estavam vendendo por lá por quinhentos Reais e ainda pode até ser considerado barato porque podem encontrar essa revista cobrando mil Reais.
Teve depois mais 3 relançamentos. A primeira foi em 1980 como parte integrante da edição "Nº 120" da Editora Abril em comemoração ao 10 anos da revista até então. A edição teve lombada com 132 páginas, sendo a metade do gibi com histórias inéditas e no final a reedição da "Nº 1" sem as propagandas originais, mostrando só as histórias na íntegra. Depois foi lançado um livro em 2002 pela Editora Globo, disponível em livrarias. Esse foi o mais fiel com as cores originais, todos o erros de cores e mostrou as propagandas internas originais. De diferente da original é que teve lombada, capa cartonada e o papel interno foi do tipo couché ao invés de papel tradicional de gibi. E em 2007 relançaram como parte integrante da "Turma da Mônica Coleção Histórica", junto com as outras "Nº 1" de outros personagens, sendo que sem as propagandas originais e no lugar colocaram comentários do roteirista Paulo Back e corrigindo erros de cores originais.
"Nº 1" (1970) e reedições: Abril (1980), Globo (2002) e Coleção Histórica Panini (2007) |
A revista 'Mônica' chega aos 50 anos em 2020 sem edição comemorativa para a data. A edição atual "Nº 61" passou a data em branco, eu pensava que a Panini teria interesse de fazer essa edição especial. pelo menos podia ter uma capa comemorativa e um frontispício original ou um selo na capa, só que seguiu tudo normal, uma edição comum.
Sem dúvida uma marca histórica que a revista 'Mônica' atingiu, não é qualquer um que consegue ter 50 anos de gibis ininterruptos em circulação. Com o sucesso e aumento de equipe foi a porta de entrada para criarem gibis de outros personagens que também tinham potencial para estrelarem gibis. Tiveram muitas histórias e momentos inesquecíveis nesse meio século que sempre vão ser lembrados pelos fãs. Pena que a qualidade decaiu por causa do politicamente correto, mas os momentos bons prevalecem e tem todo um valor histórico sobretudo as edições dos anos 1970.Vida longa á revista da Mônica.
Termino mostrando as capas de maio a cada 10 anos, quando a revista estreou e quando completou 10, 20, 30, 40 e 50 anos, nos anos de 1970 a 2020, respectivamente. Ficou interessante e até uma forma de comparar quais as melhores e piores.
Capas de Maio: Abril: Nº 1 (1970), Nº 121 (1980); Globo: Nº 41 (1990). Nº 164 (2000); Panini: Nº 41 (2010), Nº 61 (2020) |
Créditos ;) Marcos Alves: http://arquivosturmadamonica.blogspot.com/2020/05/os-50-anos-da-revista-da-monica.html
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