quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Arquivos Turma da Mônica N°885 - Cebolinha: HQ "Quem bate?"

Dia 27 de outubro, é aniversário do Mauricio de Sousa. Em homenagem, posto uma história escrita e desenhada por ele há 50 anos em que o Cebolinha não deixa o seu pai entrar em casa pensando que era um assaltante. Com 5 páginas, foi publicada em 'Mônica Nº 5' (Ed. Abril, 1970).
Capa de 'Mônica Nº 5' (Ed. Abril, 1970)

Nela, Cebolinha está brincando de carrinho quando seu pai, Seu Cebola, bate na porta. Ele pergunta quem bate e o Seu Cebola brinca que é o frio e, assim, Cebolinha não abre a porta até de noite. Seu Cebola fala que é o pai e ordena que Cebolinha abra a porta e ele pede para provar. Seu Cebola entrega a sua carteirinha de sócio debaixo da porta e Cebolinha não abre, alegando que tem que esperar aprender a ler.

Seu Cebola exige que Cebolinha abra a porta ou chame a mãe e ele tem dúvida se é o pai mesmo ou um assaltante. Cebolinha fala que a mãe está lá em cima com o pai e se não for embora vai chamar o pai. Seu Cebola fica mais furioso e bate a porta com mais força. Cebolinha telefona para polícia, falando que tem um homem querendo arrombar a porta, que está sozinho e só tem 6 aninhos e manda virem depressa. 

Chega a polícia e Seu Cebola diz que mora lá e que esqueceu a chave no escritório. O policial manda Cebolinha abrir a porta para resolver a situação. Ele pensa que os policiais são da quadrilha do assaltante e não abre. Seu Cebola diz que quando puser as mãos no filho vai bater nele enquanto o policial avisa que vai arrombar a porta. Cebolinha telefona para os bombeiros e o policial continua gritando para abrir senão vai arrombar a porta. Seu Cebola fala que ele não vai quebrar a porta e o policial faça que era só para assustá-lo e se não assustar vão ter que enfiar Seu Cebola pelo telhado. Seu Cebola o chama de prepotente. 

Os bombeiros chegam perguntando onde é o fogo e Seu Cebola manda esfriar a cabeça do brutamonte. O policial fala que é desacato à autoridade e um bombeiro taca água em todos para esfriar as coisas. Um policial corre atrás do bombeiro para bater por molhado eles e o outro leva Seu Cebola para delegacia. Cebolinha percebe que todos foram embora, com um pouco de água escorrendo por baixo da porta.  

A mãe telefona e Cebolinha diz que agora estão tudo bem, preocupando Dona Cebola. Ele diz ainda que os ladrões foram embora e um deles imitava a voz dele. Ao desligar telefone, Cebolinha acha que poderia ser mesmo o pai dele e ter sido levado pelos ladrões. No final, aparece a delegacia toda bagunçada, com Cebolinha telefonando achando que bandidos raptaram o pai, Policial queixando desacato do Seu Cebola ao delegado e Seu Cebola falando que ele apavorou o filho enquanto Dona Cebola dá queixa que ladrões cercaram a casa dela e exige que vão salvar o filho.

É engraçada essa história, Cebolinha arruma grande confusão só porque não abriu a porta de casa para o pai. Vemos Cebolinha agindo como um pestinha sem tirar ideia que não era o pai batendo na porta, só achando que era quando foi embora com os policiais para a delegacia. A parte do Cebolinha perguntando "Quem bate?" e Seu Cebola respondendo que "É o frio!" é um referência à antiga propaganda de TV das Casas Pernambucanas na época e que Mauricio quis aproveitar. E que foi fundamental na história, talvez se Seu Cebola não fizesse brincadeira e falasse que era ele, o Cebolinha podia ter aberto e não ter acontecido nada disso.

Apesar da bagunça toda, dá para mostrar mensagem para as crianças que não se deve abrir porta de casa para estranhos, quem não conhece. Incorreta atualmente por envolver tema de assaltante, mesmo que não teve um de fato, fora virar caso de polícia, todos pararem em delegacia no final e parte do diálogo do Seu Cebola querendo dar surra no filho quando puser as mãos nele também não seria bem vindo hoje. 

Pode notar também que a história é toda formada com piadinhas  em cada metade de página, que juntas formam uma história completa. Era como se fossem tirinhas de jornais seriadas.  As vezes até acontecia isso na época de série de tirinhas foram histórias nas revistas, só colorindo e redesenhando quando as originais eram bem antigas, no início dos anos 1960. Como era só Mauricio que produzia tudo, aí precisava ele aproveitar tirinhas do jornal "Folha de São Paulo" para poder preencher as revistas a tempo e até o grande público conhecer o seu trabalho publicados anteriormente em jornais locais.

Os traços nos primórdios eram os personagens com bochechas pontiagudas, tem os que gostam assim, outros não gostavam, achavam feio. Eu acho neutro e até um estilo engraçado. Também era mais frequente personagens falando de boca fechada, como foram algumas falas do Seu Cebola nessa, aí depois diminuíram isso, embora acontecia também as vezes nos anos 1980 e 1990. 

A linguagem era toda formal, principalmente colocações pronominais com próclises e ênclises nos seus devidos lugares, como podem ver em trechos como Seu Cebola falando "Meu filho recusa-se a abrir a porta" e Cebolinha falando com a mãe "Não precisa assustar-se". Com o tempo eles passaram a deixar linguagem mais informal e atualmente parece que estão querendo voltar com a normal culta. Quando Cebolinha falava com as letras trocadas, as palavras apareciam entre aspas, só a partir de 1972 que resolveram deixar em negrito. Outro detalhe é ter cada página numerada com número com círculo depois eles tiraram esse recurso.

Pode ver também que Cebolinha pensava errado trocando as letras nos primórdios, depois nos anos 1970 ainda ele passou a pensar certo nos pensamentos, mas nos anos 1980 e 1990 ele voltou a pensar trocando letras e atualmente ele pensa certo. Sua idade aí já era de 6 anos, mas quando criado como coadjuvante na Turma do Franjinha, ele tinha de 4 anos, falava errado por ser uma criancinha que ainda não sabia falar direito. Outra curiosidade que foi revelado o primeiro endereço do Cebolinha, "Rua Tupi, Nº 108". Os personagens nunca tiveram endereço fixo, depois que adotaram que moravam no fictício Bairro do Limoeiro, mas nome de rua e número de casa nunca foram fixos. Por exemplo, na história "Aniversário infalível", de Cebolinha Nº 94', de 1994, ele morava na "Rua do Limoeiro, Nº 25".

Na época só tinha revista da Mônica e, assim tinham histórias de todos os personagens nas revistas dela. Com o sucesso do Cebolinha, resolveram criar uma revista dele a partir de janeiro de 1973. Também foi republicada depois no livro "Mauricio 30 Anos", que foi uma homenagem aos 30 anos de carreira dele até então, com curiosidade da carreira e criação dos personagens e republicações de histórias de todos os tempos até então. Legal que nem ortografia original eles mudaram nesse livro como palavras como "êle". Na verdade, era pra ser lançado em 1989, mas pelo visto teve um atraso ou só tiveram uma ideia de criação do livro em 1990. Neste ano, "Mauricio 30 Anos" está completando 30 anos. Mostrei mais detalhes desse livro AQUI

Capa do livro "Mauricio 30 Anos" (1990)


Sem dúvida essa história "Quem bate?" é um clássico marcante do Mestre Mauricio de Sousa que sempre vale ser lembrado ainda mais no dia do aniversário dele. Em vez de postar história de metalinguagem com Mauricio, resolvi mostrar um clássico escrito por ele. Em uma mesma postagem, deu para homenagear ao mesmo tempo o aniversário de 85 anos do Mauricio, 60 anos do Cebolinha, 50 anos dessa história e 30 anos do livro "Mauricio 30 Anos". Só comemorações. Parabéns, Mauricio!!!

Créditos ;)  Marcos Alves: https://arquivosturmadamonica.blogspot.com/2020/10/cebolinha-hq-quem-bate.html

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